quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Fórum Social Palestina Livre é lançado em Porto Alegre


26 setembro 2012, Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)
O Fórum Social Mundial Palestina Livre, que acontecerá de 28 de novembro a 1 de dezembro, em Porto Alegre, foi lançado oficialmente nesta segunda (24), com presença de autoridades brasileiras e palestinas e de integrantes dos movimentos sociais. Foi o pontapé inicial para a realização do encontro, que discutirá a realidade palestina e será palco para o apoio mundial à luta deste povo pelo seu Estado.

Em coletiva de imprensa, o governador do Rio Grande do Sul demonstrou sua solidariedade coma a causa palestina e apoio à realização do Fórum. Ele ressaltou que o Brasil defende o "direito de existência de um estado palestino livre soberano".

"É necessário que os setores políticos de Israel e da comunidade palestina se unifiquem, para que, com base na tolerância, no respeito à autodeterminação dos povos e ao direito de existência do Estado Palestino, comunguem para uma grande movimentação política, global, para o reconhecimento deste Estado e dos direitos históricos, culturais e sociais do povo palestino", afirmou Tarso.

Denúncia
A deputada Haneen Zoabi, uma das poucas palestinas a ter assento no parlamento israelense, destacou o papel do Fórum no sentido de conscientizar a comunidade internacional sobre a realidade da palestina. “Temos que ouvir o que Israel está dizendo: que não vão retirar as tropas até a fronteira de 1967, que não vão reconhecer Jerusalém ou permitir o retorno de refugiados palestinos”, disse a deputada.

Haneen integra uma geração de palestinos que já nasceu nos territórios ocupados. Para a parlamentar, a comunidade internacional tem feito "vista grossa" para a violação dos direitos humanos praticados pelo Estado sionista. “Israel não paga o preço dos danos que causa. São feitos 60 acordos com a União Europeia e também com outros países, como o Brasil, o que inviabiliza a cobrança do cumprimento às normas estabelecidas pela ONU para proteção aos palestinos”, afirmou.

De acordo com Haneen, Israel "se autoafirma como um estado democrático e diz que promove a ocupação e constrói um muro para isolar a Palestina do restante de Israel por questões de auto-defesa”. Mas a realidade é bem diferente, aponta.

Conforme a parlamentar explicou, Israel expulsou 85% dos palestinos no final da década de 1940 para construir o seu Estado. Além disso, confiscou 85% das terras particulares dos palestinos que vivem lá. Hoje, 50% dos palestinos estão abaixo da linha de pobreza. Apesar dos palestinos representarem 18% da população no Estado de Israel, as universidades têm apenas 8% de árabes.

Além disso, Israel domina econômica e culturalmente o território, com 35 leis que autorizam a descriminação racial, religiosa e econômica. “Somos menos de 1% no setor privado e 7% dos cargos públicos", destaca a deputada. Ela fez um chamado para que se unifique a luta em solidariedade aos palestinos, não apenas em torno do fim da ocupação, como também em relação ao direito de retorno dos palestinos. Estima-se que seis milhões de palestinos estejam refugiados em diversos países do mundo.

O prefeito de Belém, na Palestina, Victor Batarseh também participou do evento em Porto Alegre e denunciou a política israelense. “Com o muro de oito metros, estamos vivendo em uma prisão. Só 15% têm permissão para trabalhar. A nossa agricultura foi afetada com a construção do muro e era nossa principal fonte de sobrevivência. Pessoas adoecem ou sofrem infarto e não podem ser atendidas em Jerusalém. Cristãos e muçulmanos são proibidos de rezar”, relatou.

Já o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, disse que o Fórum Social Mundial Palestina Livre será uma oportunidade para os refugiados denunciarem o que vivem há 65 anos, desde a divisão do território palestino pela Organização das Nações Unidas (ONU). "Nosso povo está dividido em vários lugares do mundo, mas está unido num mesmo ideal. Queremos uma vida digna, sem ocupação e sem discriminação", destacou.

O deputado estadual Raul Carrion (PCdoB) - autor da Lei Estadual de Solidariedade ao Povo Palestino - reiterou a necessidade de realizar debates sobre o tema e elogiou a iniciativa do evento. “Somos solidários à criação do Estado Palestino, à negociação, à paz na região”, disse o parlamentar.

Organização
Antes da coletiva, aconteceu o primeiro encontro de trabalho da organização do Fórum, para discutir a estrutura e mobilização para o evento. E, em seguida, foi realizado um seminário de formação, no qual, além da deputada palestina, participou também a professora Analucia Pereira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Analucia fez um apanhado histórico de como a intervenção imperialista europeia na região do Oriente Médio, promovida principalmente pela Grã-Bretanha e a França, levou à situação atual. “O sionismo começou tímido porque os judeus estavam espalhados por vários países da Europa, mas conquistou apoio importante dos banqueiros e estabeleceu um fundo nacional judaico, que permitiu compra de terras na Palestina. A combinação entre os interesses britânicos e os do movimento sionista se aprofundou e, em 1948, logo após a 2ª Guerra Mundial, resultou na partilha do território para a criação de dois estados, na qual se previa que 57% das terras seriam destinadas aos judeus e o restante para os palestinos, cuja população era infinitamente maior, além do estabelecimento das nações árabes como se conhece hoje”, resgatou.

Entidades
A coordenação do Fórum conta com cerca de 40 movimentos sociais, sindicatos e ONGs. A ideia é fazem uma ampla mobilização, para que o evento seja representativo e mais pessoas possam conhecer a realidade palestina hoje.

"O lançamento foi muito bom. A presença do governador foi importante, demonstra como o estado está comprometido. Nossa tarefa agora é ampliar e trabalhar a mobilização para que o fórum seja o mais participativo possível", disse o presidente da Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal), Elayyan Aladdin. Segundo ele, a Fepal já tem programada uma agenda de viagens, para convidar as comunidades palestinas a participar do encontro de novembro. Ele destacou ainda a importância de agregar à atividade o meio estudantil e acadêmico.

A presidenta do Cebrapaz, Socorro Gomes, também ressaltou a importância do apoio do governo ao Fórum e à causa palestina. Segundo ela, o evento foi uma grande demonstração da determinação das entidades brasileiras no apoio à questão. "Em meio às diferenças, foi construída uma unidade sobre a realização do Fórum, que divulgará a cultura palestina, denunciará o sofrimento daquele povo, vai expor a solidariedade mundial e traçará uma agenda de lutas em defesa do Estado palestino", disse.

Socorro também denunciou a intransigência de Israel sobre o assunto. "Israel não obedece às resoluções da ONU, é uma potência extremamente armada - inclusive com armas nucleares - e que ameaça os países que não se submetem à sua política racista", colocou, defendendo que o Estado palestino é uma questão "de justiça, humanitária e essencial para a paz no mundo".

"Israel se comporta como a África do Sul na época do apartheid e deve ser tratado como um estado racista e genocida, que não obedece às leis internacionais", encerrou.

Durante os dias de realização do Fórum, organizações brasileiras e internacionais e pessoas que apoiam o fim da ocupação israelense e da colonização das terras árabes estarão discutindo formas de intervenção para promover justiça e paz na região. Além da denúncia, a ideia é dar visibilidade à causa e à solidariedade que ela tem conquistado ao redor do mundo.  (Com agências)

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