quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Irã não é uma ameaça para Israel, diz historiador israelense

13 Fevereiro 2012, Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)

As comemorações pelo 33º aniversário da Revolução Iraniana, que tiveram início no último dia 1º, se encerram neste sábado (11) em um momento em que o país é cada vez mais pressionado pela comunidade internacional para que encerre seu “suposto” programa nuclear.

Nesse cenário, as relações com Israel se tornam cada vez mais delicadas à medida que os dois lados ameaçam garantir a segurança nacional por meio de ações militares.

Na comunidade internacional, os israelenses fazem lobby para que a ONU (Organização das Nações Unidas) adote sanções cada vez mais agressivas contra o Irã, atingindo, principalmente, sua economia e sua produção de petróleo.

Apesar da tensão entre os dois países, Martin van Creveld, historiador pela Universidade Hebraica de Jerusalém, especialista em estratégia militar e Ph.D pela London School of Economics, afirma que o Irã está longe de ser uma ameaça a Israel.

Para ele, as declarações de Teerã buscam atrair o apoio árabe na região. No entanto, mesmo afastando a possibilidade de uma ação militar iraniana, van Creveld não descarta que Israel pode dar o primeiro passo.

Acompanhe a entrevista:

Opera Mundi: Diante deste cenário que envolve acusações e ameaças de ambas as partes, qual é a real situação das atuais relações entre Irã e Israel?
Martin van Creveld: O Irã tem dois inimigos principais. O primeiro são os Estados Unidos. Assim com as Guerras de 1991, 1999 e 2003 [Golfo, Kosovo e Iraque] mostraram, ninguém nunca sabe qual será o país que o próximo presidente dos EUA irá atacar com bombas e/ou invadir. Se os iranianos estão realmente tentando construir uma bomba o mais rápido possível – e isso não é nada certo – então o principal objetivo norte-americano é deter essa ameaça.

O outro rival do Irã é a Turquia. Após o desaparecimento do Iraque [da geopolítica internacional] e do enfraquecimento da Síria, um vácuo de poder se abriu. Ele atinge desde a costa nordeste do Mediterrâneo até o Golfo Pérsico. Tanto o Irã quanto a Turquia querem dominar essa área. Os dois países têm cerca de 80 milhões de pessoas e são potências regionais.

Comparado com esta luta titânica, Israel é pequeno e não tem importância. Para o Irã, fazer todos os tipos de ruído anti-israelense é muito útil para puxar a opinião pública árabe na Síria e no Iraque para seu favor.

Opera Mundi: É tão perigoso assim que o Irã produza energia nuclear?
MC: A energia nuclear está fora de questão. Muitos países possuem reatores, mas não têm as armas necessárias para produzi-las. A questão é: será que os iranianos irão usar a infraestrutura que possuem agora para construir uma bomba? Ninguém sabe a resposta. O que parece claro, porém, é que ninguém mais tem reservado tanto tempo para isso [questão nuclear]. Esse fato pode levantar algumas suspeitas.

Opera Mundi: O Irã é uma ameaça para Israel?
MC: Não. Relatórios internacionais apontam que Israel tem o que é necessário para transformar o Irã em um deserto radioativo em poucas horas se esta for a ordem. Os iranianos sabem disso, assim como todo mundo sabe.

Opera Mundi: O Sr. disse uma vez que o “Irã é um país perigoso, mas não para nós [israelenses]”. Para quem então?
MC: Os países que possuem razões para se preocupar [em relação ao Irã] são aqueles que fazem fronteira com o Golfo, como o Kuwait, Bahrein, Qatar, Emirados Árabes Unidos e, é claro, a Arábia Saudita. Se o Irã desenvolver a bomba, a pressão sobre esses países irá aumentar, sem dúvidas. Mas nós em Israel estamos muito longe, e salvar os árabes de seus irmãos muçulmanos não é nosso negócio.

Opera Mundi: É possível que um dos dois países inicie alguma ação militar em um futuro próximo?
MC: Dias atrás um blogueiro iraniano escreveu que a melhor defesa é o ataque e que o Irã poderia atacar Israel antes que os israelenses tomassem a primeira atitude. Esta foi a primeira vez que algo dessa forma apareceu na internet [iraniana]. No entanto, nós não sabemos quem é o blogueiro e quem ele representa, caso isso de fato aconteça.
Eu considero que um ataque iraniano, sem um motivo aparente, está fora de questão. No entanto, será que Israel atacaria o Irã agora? Se eu soubesse, com certeza não lhe diria.

Opera Mundi: Como uma forma de estrangular a economia iraniana, a comunidade internacional vem aprovando cada vez mais novas sanções contra o país. Qual é o peso dessas medidas contra o Irã? Como isso afeta a população?
MC: Difícil dizer. De qualquer forma, parece que as sanções estão tendo um impacto na economia iraniana. O dinar [moeda iraniana] está caindo feito uma pedra. Os preços dos alimentos e combustíveis subiram e parece haver uma agitação popular. Não considero impossível que, caso o descontentamento pelos aumentos cresça entre a população e o regime começar a se sentir em perigo, o homem no comando, Aiatolá Khamani, irá se livrar de Ahmadinejad para salvá-lo [regime]. No entanto, ainda não estamos nesse estágio.

Fonte: Opera Mundi


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