28 abril 2011/Vermelho http://www.vermelho.org.br/
Após quatro anos de divisão, os grupos palestinos Hamas e Fatah anunciaram, na quarta-feira (27), terem chegado a um acordo de conciliação. Negociado no Cairo, o acordo prevê a formação de um governo interino, a fixação de uma data para eleições e a libertação de alguns presos.
A sinalização de unidade desagradou Israel, que ameaçou a Autoridade Palestina com um “vasto arsenal de medidas” de retaliação. As relações entre os dois movimentos políticos foram rompidas em 2007, com a disputa pelo governo da Faixa de Gaza, vencida à força pelo Hamas.
O conflito provocou a criação de duas administrações palestinas, uma em Gaza e outra na Cisjordânia, sob a liderança da Fatah, do presidente Mahmud Abbas, que controla a Autoridade Palestina.
"Digo ao povo palestino que chegou o fim da divisão. O que o povo em Gaza pedia foi cumprido hoje", afirmou o dirigente da Fatah, Azam al Ahmad, em entrevista coletiva na capital egípcia junto ao representante do Hamas, Moussa Abu Marzuk.
"Temos agora um acordo completo, concordamos em todos os assuntos", disse Ahmed. Em duas ocasiões anteriores os dois movimentos anunciaram acordos, mas recuaram da sua adoção em seguida. Na quarta, os dois movimentos disseram que Abbas e Khaled Meshal, líder do Hamas, assinarão o acordo no Cairo, no próximo dia 5.
Ahmad, líder do grupo parlamentar da Fatah na Assembleia Legislativa palestina, afirmou que a ideia de reunir os palestinos partiu da vontade de pôr fim à ocupação de Israel.
"Anteriormente Israel censurou (o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud) Abbas sobre este acordo, e Abbas respondeu em Moscou que a ANP deseja a reconciliação com o Hamas", lembrou.
O dirigente da Fatah denunciou ainda que "os Estados Unidos usaram a divisão como pretexto para evitar cumprir seus deveres". Ahmad destacou que "a ocupação aproveitou a divisão para 'judaicizar' Jerusalém, levantar o muro e separar grandes setores da Cisjordânia".
Ele respondeu assim ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que, diante da reconciliação, havia dito que a Autoridade Palestina deveria “escolher entre a paz com Israel e a paz com o Hamas”. "Não é possível a paz com os dois porque o Hamas tem a aspiração de destruir Israel, como já disse abertamente", esbravejou Netanyahu.
O nacionalista Avigdor Lierberman, ministro das Relações Exteriores e dirigente do partido extremista Yisrael Beitenu, foi mais longe, ao advertir Mahmud Abbas para o “vasto arsenal de medidas” de retaliação que o Estado sionista pode acionar.
Em declarações difundidas pela rádio militar, Lieberman considerou que Hamas e Fatah ultrapassaram “uma linha vermelha”. E fez ameaças: "Nós dispomos de um vasto arsenal de medidas retaliatórias, incluindo a supressão do estatuto de VIP a Mahmoud Abbas (presidente da Autoridade Palestina), assim como a Salam Fayyad (primeiro-ministro palestino)" – o que os impedirá de circular livremente na Cisjordânia.
Além daquelas retaliações, o chefe da diplomacia de Israel também brandiu ameaças de “congelamento das transferências dos impostos" para os cofres do poder executivo em Ramallah.
O acordo
O negociador do Hamas, Moussa Abu Marzuk, declarou que os dois grupos chegaram a um acordo em questões pendentes como as eleições, a comissão eleitoral, a data do pleito, assuntos de segurança, "a formação de um governo com personalidades independentes", além da continuação da Assembleia Legislativa.
Também foi solucionada a libertação de alguns presos, a reabertura de instituições fechadas e a consolidação de um ambiente para a realização de eleições livres e transparentes com observação internacional, acrescentou Marzuk.
O dirigente do Hamas ressaltou que todos esses temas devem ser cumpridos no prazo de um ano e que, durante as conversas, não foram discutidas as condições estabelecidas pelo Quarteto Internacional (EUA, ONU, UE e Rússia).
Marzuk explicou que seu grupo assinou o plano egípcio, lançando em 2009 e que foi rejeitado pelo Hamas em outubro desse ano por considerar que tinham sido incluídos pontos não discutidos previamente.
Por sua vez, Ahmad ressaltou que "a Liga Árabe se encarregará de acompanhar o cumprimento do acordo e o supervisionará", e que "o acordo obtido hoje responde a dúvidas do plano egípcio".
"Permaneceremos desde hoje no diálogo para resolver qualquer assunto que surja", afirmou Ahmad. "O diálogo é parte da vida e da história contemporânea palestina, todos aprendemos uma dura lição da divisão", prosseguiu.
O representante da Fatah acrescentou que hoje foi fechado um acordo para a formação de uma comissão suprema de segurança, integrada por oficiais e profissionais, e que nomeará uma comissão eleitoral central com o acordo das facções.
Em entrevista posterior à rede de televisão al-Jazira, Ahmad acrescentou que serão realizadas eleições presidenciais e legislativas conjuntas, um ano depois da data da assinatura do acordo.
Sabotagem em andamento
Diante da divulgação do novo acordo, os Estados Unidos já iniciaram a sabotagem do processo. "Os Estados Unidos apoiam a reconciliação palestina sob condições que promovam a causa da paz. O Hamas, no entanto, é uma organização terrorista que tem como alvo os civis", provocou o porta-voz da Casa Branca, Tommy Vietor, em comunicado divulgado na tarde de quarta.
A criação de um governo palestino provisório que reúna os dois principais movimentos políticos locais vai contra os anseios imperialistas dos Estados Unidos no Oriente Médio, de acordo com a nota divulgada pela Casa Branca.
"Para ter um papel construtivo em alcançar a paz, qualquer governo palestino deve aceitar os princípios do Quarteto e renunciar à violência, respeitar os acordos passados e reconhecer o direito de Israel de existir", ameaçou o porta-voz.
Israel e Estados Unidos são os dois maiores beneficiários da desunião entre forças políticas palestinas e não é de se estranhar a posição dos dois governos, que veem qualquer tipo de acordo intrapalestino como ameaça aos planos de dominação do imperialismo no Oriente Médio.
O últimos movimentos iniciados pelos Estados Unidos em torno de um "acordo de paz" entre israelenses e palestinos serviram apenas aos interesses da política interna norte-americana, visto que foram refutados de modo categórico pelo gesto de Israel, ao levantar a autoproclamada moratória que proibia a construção em assentamentos ilegais no território palestino. (Com agências)
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