7 julho 2011/Brasil de fato http://www.brasildefato.com.br
OBS.: O texto completo está em:
Português: Brasil de Fato http://www.brasildefato.com.br/node/6539
Inglês: http://www.redpepper.org.uk/interview-with-noam-chomsky/
''A imensa maioria dos árabes pensa que a maior ameaça vem dos EUA-Israel''
John Berger
Redpepper.org
Para sua segunda entrevista em menos de um ano com o professor Noam Chomsky (a primeira ocorreu em Cambridge, em setembro de 2010), Frank Barat pediu a renomados artistas e jornalistas que cada um lhe enviasse a pergunta que gostaria que fosse formulada a Noam.
Amira Hass: Os levantes dos países árabes fizeram-lhe mudar ou revisar as suas antigas análises? Afetaram, e como, as suas ideias sobre, por exemplo, massas, esperança, Facebook, pobreza, intervenção ocidental, surpresa? (Jornalista israelense que vive na faixa de Gaza)
Amira e eu nos reunimos na Turquia há um par de meses, tivemos um par de horas para falar e nenhum de nós previu nada, talvez ela sim, mas se o previu não disse nada, certamente eu não previ nada, não estava sucedendo nada no mundo árabe, portanto, sim, mudei de opinião a esse respeito porque foi algo inesperado. Por outra parte, quando olhas para trás, não há diferença com o que ocorria antes, exceto que no passado os levantes eram violentamente reprimidos, e isso foi o que ocorreu em novembro, no início dos levantes, no Saara Ocidental que Marrocos invadiu há 25 anos, violando as resoluções das Nações Unidas e ocupando brutalmente.
Em novembro se produziu esse primeiro protesto não violento que as tropas marroquinas controlaram violentamente, que é algo que há 25 anos seguem fazendo; foi bastante grave como para que se apresentasse uma petição de investigação nas Nações Unidas, mas então a França foi e interveio. A França é o principal protetor de atrocidades e crimes na África Ocidental, são as velhas propriedades francesas, por isso bloquearam a investigação das Nações Unidas do que foi o primeiro protesto. O seguinte foi na Tunísia, de novo mais ou menos uma zona francesa, mas teve êxito, derrubaram o ditador. E depois veio o Egito, que é o mais importante devido a sua relevância no mundo árabe, que foi imensamente notável, uma imensa demonstração de valor, dedicação e compromisso. Tiveram êxito ao se desfazerem do ditador, ainda que o regime não tenha, todavia, mudado. Talvez mude, mas ainda segue aí, diferentes nomes, mas nada novo; esse levante, do 25 de janeiro, foi dirigido pelos jovens que se autodenominaram como o Movimento do 6 de abril.
Bem, o seis de abril se chama assim por uma razão, eles elegeram esse nome porque foi a data de uma ação importante de luta um par de anos antes, no complexo industrial têxtil de Mahalla, e que se acreditava que seria uma greve importante, levaram-se a cabo atividades de apoio e outras. Bem, foram reprimidos violentamente, isso foi em 6 de abril e essa foi uma da série de greves. Certo é que pouco depois da repressão do levante de 6 de abril, o presidente Obama foi ao Egito dar seu famoso discurso sobre a aproximação ao mundo muçulmano e os demais. Solicitou-se a ele em uma conferência de imprensa que dissesse algo sobre o governo autoritário do presidente Mubarak e disse que não, que Mubarak era um bom homem, que estava fazendo coisas boas mantendo a estabilidade e derrotando a greve de 6 de abril e que isso estava bem.
O mais chamativo é Barein. O que aí sucede está alarmando o Ocidente, em primeiro lugar porque Barein alberga a quinta frota americana, uma força militar importante na região. Segundo, porque é de maioria xiita e se chega até ali justamente através de uma estrada construída desde o leste de Arábia Saudita, que tem também uma população de maioria xiita, e sucede que é onde se encontra a maior parte do petróleo. Durante anos, os planejadores ocidentais se preocuparam pelos incidentes históricos e geográficos dali, porque a maior parte do petróleo mundial se encontra nas zonas xiitas, justamente ao redor desta parte do Golfo, Irã, sul do Iraque, leste da Arábia Saudita. Bem, se o levante de Bahrein se estende à Arábia Saudita, as potências ocidentais vão se ver realmente em dificuldades e de fato Obama modificou a retórica que utilizava oficialmente para falar dos levantes. Durante um tempo falou de mudança de regime, agora fala de alteração do regime. Não queremos que haja mudanças, é extraordinário poder contar com um ditador que nos faça o trabalho sujo.
Na atualidade, um fato bastante surpreendente sobre tudo isto é que..., dê uma olhada nos vazamentos de WikiLeaks, é muito interessante. Os mais conhecidos no Ocidente, as grandes manchetes, os vazamentos dos embaixadores que diziam que o mundo árabe nos apoia contra Irã... Mas havia algo que faltava nessas reações nos jornais, nos colunistas e outros, a saber: a opinião pública árabe, o que queriam dizer com isso de que os ditadores árabes nos apoiam? O que se passava com a opinião pública árabe? Não havia nada, não se informava nada. Nos EUA: zero, creio que há um informe na Inglaterra, de Jonathan Steele, e provavelmente nada na França, não sei. Mas sabe-se bem, e muitas agências prestigiosas publicaram, que os árabes que pensam que Irã é uma ameaça representam 10%.
A maioria, a imensa maioria, pensa que a maior ameaça vem dos EUA e Israel. No Egito, 90% dizem que os EUA é a maior ameaça, na realidade a política dos EUA é tão dura que eu acredito que no Egito quase 80% pensam que o regime seria melhor se Irã tivesse armas nucleares. Por toda a região, a maioria pensa assim. Voltando a John Berger e ao termo democracia, a valorização dos intelectuais ocidentais da democracia é tão profunda e está tão profundamente arraigada que a ninguém ocorre perguntar o que pensam os árabes; quando nos sentimos eufóricos de que os árabes nos apoiem, a resposta é que não nos interessam, enquanto estejam quietos e submetidos e controlados, enquanto há isso que chamamos de estabilidade, não importa o que pensam. Os ditadores nos apoiam e ponto, sentimo-nos eufóricos perante este tipo de vínculos, junto a uma boa quantia de questões... Mas, voltando ao comentário de Amira Hass, o sucedido deveria nos levar a pensar no que esteve sucedendo não somente no mundo árabe, mas em mais lugares e que muito frequentemente está motivado por uma razão essencial: a de terem sido submetidos com violência e assim ocorreu ao longo de todo um século.
Quero dizer que os britânicos estiveram reprimindo o movimento democrático no Irã há mais de um século. No Iraque, houve um levante xiita e, tão logo como os britânicos improvisaram o país após a primeira guerra mundial, reprimiram violentamente os grandes levantes; um dos primeiros usos da aviação foi para atacar os civis. Lloyd George escreveu em seu diário que isso foi algo grandioso porque tínhamos que nos reservar o direito de bombardear os “negros”. Continuou em 1953 quando os EUA e a Grã Bretanha se uniram para derrotar no Irã o governo parlamentarista. De 1936 a 1939, houve um levante árabe na Palestina contra os britânicos que foi violentamente combatido.
A primeira Intifada foi de novo um levante popular muito importante. Não foi violento em absoluto, mas sim, um verdadeiro movimento popular, com grupos de mulheres protestando contra a estrutura feudal, tentando destruí-la. Foi combatida sem piedade. Tão logo sucediam coisas como essas, elas eram combatidas. O que é incomum nesta ocasião é que na maioria dos países são suficientemente fortes como para poder sustentar-se. Não sabemos o que sucederá no Barein e Arábia Saudita. Na realidade, não sabemos o que vai suceder no Egito. O exército, que conservou até agora ao menos o controle e o alto comando militar, está profundamente embutido no velho regime opressor. Haviam se apoderado de grande parte da economia, eram os beneficiários da ditadura de Mubarak, não vão ceder facilmente, por isso nos resta ver o que vai suceder ali.
Alice Walker: Creio que é inevitável a solução de um único Estado ao impasse Palestina/Israel, e que é mais justa do que poderia ser a solução dos dois estados. Isto se deve ao fato de que não acredito que Israel deixe alguma vez de tentar ter sob seu controle os palestinos, sejam já cidadãos de Israel ou vivam nos territórios ocupados. Com a solução dos dois Estados haveria um estado israelita e um bantustão palestino. (Escritora estadunidense e autora do livro A Cor Púrpura)
Surpreendeu-me muito seu rechaço à ideia de um Estado como algo quase absurdo e gostaria de entender por que pensa assim. Não há nenhuma esperança de que israelitas e palestinos possam viver juntos como os brancos e negros após a caída do apartheid, na África do Sul?
É uma pergunta interessante. Ela é uma mulher maravilhosa, faz um bom trabalho, está realmente comprometida com a causa palestina, mas a pergunta diz algo sobre o recente movimento de solidariedade palestino. Quero dizer, se eu tivesse lhe feito a pergunta, digamos, por que pensa que é absurdo tentar defender direitos civis para os negros nos EUA? Ela teria se sentido desconcertada, dedicou grande parte de sua vida nisso. De fato, a única resposta possível seria: De que planeta você saiu? Isso é o que estive fazendo toda a minha vida.
É exatamente o mesmo aqui. Já faz setenta anos que estamos defendendo o que na recente ressurreição recebe o nome de um acordo para Um Estado. O acordo para Um Estado, que não é solução. Esse Acordo de Um Estado chama-se, frequentemente, de um acordo binacional e se se pensa nele, sim, terá de ser um acordo binacional. Isso foi o que eu estive fazendo quando era um jovem ativista nos anos quarenta, em oposição a um Estado judeu. E assim continuarei sempre. E é duro perder isso. Desde os últimos anos da década de 1960 escrevi toda uma série de livros, um número imenso de artigos, palestras constantemente, milhares delas, entrevistas, sempre ao redor do mesmo. Tentando trabalhar por um acordo binacional, em oposição a um Estado judeu.
Fiz toneladas de trabalhos sobre este tema, trabalho ativista, escrevendo, etc. Mas não é somente o slogan e acredito que é por isso que alguém como Alice Walker o desconhece. Não é somente um slogan, “vivamos juntos e felizes”. Trata-se de enfrentar seriamente o problema. Quando és sério sobre isso, pergunta-te “como podemos conseguir?” Bem, depende das circunstâncias, como todas as opções táticas. No período anterior a 1948, era simples, não queremos um Estado judeu, tenhamos um Estado binacional. De 1948 a 1967, dizias a ti mesmo que não era sensato eleger essa posição. Em 1967 abriu-se de novo a possibilidade. Houve uma oportunidade em 1967 de avançar para algum tipo de sistema federal para depois chegar a uma integração mais estreita, talvez um autêntico Estado laico binacional.
Em 1975, cristalizou o nacionalismo palestino e se introduziu na agenda, e a OLP ponderou um acordo de dois estados, com o imensamente doloroso consenso internacional dessa época para um acordo de dois estados na forma que todo o mundo conhece. De 1967 a 1975 era impossível defendê-lo diretamente e era um anátema, algo odiado, denunciado porque era ameaçador. Era ameaçador porque podia cumprir-se e isso prejudicaria a formação política. Portanto, enquanto se davam conta, denunciava-se e difamava-se. Desde 1975 podias ainda manter esta posição, mas tinhas de enfrentar a realidade, que teria que se alcançar por etapas. Há somente uma proposta que nunca escutei, a de que vivamos todos juntos em paz; a única proposta que conheço, começando com o consenso internacional, é a do acordo de dois Estados. Reduzirá o nível de violência, o ciclo de violência, abrirá possibilidades para uma interação mais estreita que já se produz em algum nível, inclusive nas circunstâncias atuais, comercial, cultural e outras formas de interação. Isso poderia levar a desgastar as fronteiras. Isso poderia levar a uma maior interação e talvez a algo como o velho conceito de Estado binacional.
Chamo agora de acordo porque não acredito que este seja o final do caminho. Não vejo razão particular alguma para render culto às fronteiras imperialistas. Assim que quando minha esposa e eu nos voltamos para quando éramos estudantes e íamos com a mochila pelo norte de Israel, e sucedia que cruzavas o Líbano, porque não há uma fronteira marcada, já se sabe, aparecia alguém nos gritando e nos dizendo para voltar. Por que deveria fazer uma fronteira ali? Foi imposto mediante a violência francesa e britânica. Tínhamos que avançar até uma maior integração de toda a região, não se fazia um acordo de um Estado se é que falamos da palavra. De qualquer forma, há uma série de coisas equivocadas com respeito aos Estados, por que deveríamos prestar culto às estruturas estatais? Teríamos de miná-las. Mas bem, em uma série de passos. Se alguém pode pensar em outra via para chegar até aí, então deveria nos contar. Podemos lhe escutar e falar sobre isso. Mas não sei de outra via. Portanto, tudo o que estive escrevendo e falando é demasiado complexo para colocá-lo em uma mensagem de twitter. Nesta época, isso significa que não existe. Tens de apoiar tanto o acordo para dois Estados como o acordo para um Estado. Tens de apoiar ambas as coisas, porque uma delas é o caminho para conseguir a outra. Se não fazes o primeiro movimento, não vai a lugar algum. Agora Alice Walker diz que Israel não aceitará um acordo de dois Estados. Tem razão. Tampouco vai aceitar o acordo de um Estado. Portanto, se esse argumento tem alguma força, sua proposta está fora de lugar, a minha também.
Por esse mesmo argumento, poder-se-ia tratar de demonstrar que o apartheid nunca teria fim. Que os nacionalistas brancos nunca aceitariam por fim ao apartheid, o que é verdade, então, Ok, renunciamos a luta contra o apartheid. Indonésia nunca renunciaria a Timor Leste, os generais diziam alto: “é uma província nossa e vamos mantê-la”. Isso tinha sido verdade se as ações tivessem se produzido no vazio. Mas não havia tal vazio, havia outros fatores implicados. Um dos fatores, que é importante, e de fato nestes casos é decisivo, é a política norte-americana. Bem, isso não está gravado em pedra. Quando a política dos EUA mudou sobre a Indonésia e Timor Leste, tomou-se literalmente uma frase do presidente Clinton para conseguir que os generais indonésios se fossem. Em um determinado momento ele disse: “Acabou-se”. E se retiraram.
No caso do apartheid, foi um pouco mais complicado. Cuba desempenhou um grande papel. Por exemplo, Cuba expulsou os sul-africanos de Namíbia e protegeu Angola. Isso teve um grande impacto. Mas foi quando mudou a política dos EUA, até 1990, quando esse movimento, o apartheid, veio abaixo. Agora, no caso de Israel, EUA é decisivo. Israel não pode fazer nada sem contar com o apoio dos EUA. Proporciona-lhe apoio democrático, militar, econômico e ideológico. Quando esse apoio se retira, fazem o que os EUA dizem. E assim sucedeu realmente uma e outra vez.
Portanto, se fosse verdade que se estivesse atuando em um vazio, nunca teriam aceitado algo que não fosse o que estão fazendo agora. Apoderando-se da prisão que é a Gaza, apoderando-se de todo o território que lhes dá vontade, já se sabe, e assim seguirão. Mas não estão atuando em um vazio. Há coisas que podemos fazer, como em outros casos, para mudar isso. E neste caos, penso que pode se considerar e, inclusive, traçar-se um plano para poder avançar em direção ao acordo de um Estado como um passo até algo inclusive melhor; há que seguir. Pelo que se pode ver, o único caminho para conseguir isso é apoiando o consenso internacional como primeiro passo. Um passo, um prelúdio para mais passos. Isso significa ações muito concretas. Não temos de organizar um seminário para discutir as possibilidades abstratas. Há passos muito concretos que podemos dar.
Por exemplo, retirar o exército israelense da Cisjordânia. Essa é uma proposta concreta e há toda uma série de medidas a adotar para levá-la a cabo. Por exemplo, a Anistia Internacional, que não é precisamente uma organização revolucionária, pediu um embargo de armas sobre Israel. Bem, se os EUA, Grã Bretanha, França e outros, se os povos podem pressionar os seus governos para que aceitem essa proposta e dizer que haverá um embargo de armas ao menos que retires o teu exército da Cisjordânia, isso teria efeito. Há outras ações que poderiam ser feitas. Se o exército sai da Cisjordânia, os colonos irão também com eles. Subirão nos caminhões que lhes facilitem e se transladarão desde suas casas subvencionadas na Cisjordânia para as suas casas subvencionadas em Israel. Da mesma forma como fizeram em Gaza, quando lhes foi dada a ordem. É provável que alguns fiquem, mas isso não importa, se querem seguir em um Estado palestino, isso é assunto seu. Portanto, há coisas muito concretas que podem ser feitas. Sei que não é questão de estalar os dedos e já está, mas não é pedir muito mais que o tipo de coisas que sucederam em outras partes quando a política das grandes potências mudou, sobretudo a dos EUA.
Frank Barat é coordenador do Tribunal Russel sobre Palestina e acaba de editar o livro de Noam Chomsky e Ilan Pappé Gaza in Crisis: Reflections on Israel’s War Against the Palestinians.
Fonte: http://www.redpepper.org.uk/interview-with-noam-chomsky/
Traduzido do inglês para Rebelión por Sinfo Fernández
Traduzido para Diário Liberdade por Gabriela Blanco
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quarta-feira, 13 de julho de 2011
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Brasil: Sionistas contra o PCB
– querem criminalizar o partido e cassar o seu registro no Tribunal Superior Eleitoral
14 junho 2011, Resistir.Info http://resistir.info (Portugal)
O original encontra-se em www.pcb.org.br/... (Brasil)
por PCB
Fomos informados de que uma entidade chamada CONIB (Confederação Israelita do Brasil) teria formalizado, no início deste mês, representação contra o PCB (Partido Comunista Brasileiro), junto ao TSE, alegando prática de "antissemitismo", por ter a página do partido na internet publicado artigo denominado "Os Donos do Sistema: o Poder Oculto; de Onde Nasce a Impunidade de Israel".
Na apresentação de seu portal, a entidade se assume sionista, posiciona-se "na linha de frente do combate ao antissemitismo" e oferece "links" para todas as organizações sionistas de Israel, dos Estados Unidos e de âmbito mundial ou nacionais, a imensa maioria de direita.
Apesar de ainda não conhecermos os termos da representação (não divulgada pela entidade), inferimos que sua verdadeira intenção é tentar cassar o registro do PCB, como se se fosse possível calar a voz dos verdadeiros comunistas brasileiros. Nosso partido – o mais antigo do Brasil, fundado em 1922 - foi escolhido criteriosamente para esta ofensiva por razões que nos orgulham. Além de lutarmos pela superação do capitalismo, praticamos com firmeza e independência o internacionalismo proletário, a solidariedade a todos os povos em luta contra o imperialismo e o sionismo, cujo significado não se refere ao seu conteúdo original, mas ao caráter atual do movimento, hegemonicamente fascista e imperialista.
A nosso ver, trata-se de uma ação política, muito mais do que jurídica.
O texto que provocou a reação da CONIB é de autoria do jornalista argentino Manuel Freytas, divulgado originalmente no sítio eletrônico IAR Notícias, e reproduzido mundialmente em pelo menos mais de trinta portais progressistas e anti-imperialistas, listados ao final desta nota.
Segundo a apócrifa nota publicada pela citada CONIB ( www.conib.org.br ), o texto se utiliza "de imagens apelativas, distorções da realidade e argumentos conspiratórios e claramente anti-semitas", revelando "alto grau de desconhecimento do cenário político-econômico internacional", por repetir (agora no século 21!) chavões da obra "Os Protocolos dos Sábios de Sião, farsa montada pela polícia czarista da Rússia, no século 19". Assim, o PCB é acusado de "incentivar a discriminação e a proliferação da intolerância religiosa, étnica e racial em nosso país".
Termina a nota afirmando que a representação baseia-se na Lei Orgânica dos Partidos Políticos, com a "finalidade de evitar que abusos e inverdades desencadeiem preconceitos contra a comunidade judaica brasileira".
Diante deste fato, o PCB vem a público se pronunciar:
1 – O PCB não se intimidará diante da pressão de organizações sionistas de direita e continuará prestando ampla, geral e irrestrita solidariedade ao povo palestino, vítima da escandalosa impunidade de Israel, tema do artigo considerado ofensivo. Desrespeitando todas as Resoluções da ONU, o estado israelense continua ampliando a ocupação de territórios dos palestinos, derrubando suas casas, criando o chamado "Muro do Apartheid", invadindo e cercando a Faixa de Gaza, onde impede a entrada de ajuda humanitária (inclusive alimentos e medicamentos), assassinando e prendendo militantes palestinos, mantendo mais de 11.000 deles em condições abjetas em seus cárceres. Mais do que isso, continuaremos a denunciar que Israel se transformou numa enorme base militar norte-americana no Oriente Médio. O país é o primeiro destino da ajuda militar estadunidense no mundo e o único do Oriente Médio a ter direito a armas nucleares, sem permitir a inspeção internacional que exige de outros países.
2 – Esta ofensiva contra o PCB se deve ao fato de que apoiamos e participamos dos diversos Comitês de Solidariedade ao Povo Palestino que se consolidam e se multiplicam pelo Brasil. No nosso portal, este texto foi escolhido aleatoriamente, pois com uma simples pesquisa se pode verificar que ali os artigos e informações sobre a luta contra a política terrorista do Estado de Israel se contam às centenas, muitos deles mais contundentes que o escolhido para ofender a liberdade de imprensa consagrada em nosso país e tentar intimidar e criminalizar o PCB. Publicamo-lo exatamente há um ano, mas só agora ele foi "descoberto".
3 – É significativo que esta atitude intimidatória (que está se dando em vários países) ocorra no exato momento em que as duas maiores organizações políticas palestinas (Fatah e Hamas) anunciam a retomada de seus entendimentos e o desejo de dividir a responsabilidade pela administração dos territórios palestinos, que foram separados arbitrariamente pelas forças militares israelenses com o uso da violência e da ocupação.
4 – A unidade dessas duas organizações contraria os planos imperialistas de divisão sectária entre os palestinos – exatamente porque cria melhores condições para o reconhecimento internacional do Estado Palestino e para uma negociação pela paz na região -, tudo que Israel não deseja, apesar das reiteradas resoluções da ONU nesse sentido.
5 – Esta atitude arbitrária de perseguição política coincide também com a satanização do mundo muçulmano, este sim vítima de preconceitos e estigmatização, sem que a mídia burguesa se utilize de expressões como "anti-islamismo", "anti-xiitismo", "anti-sunitismo" etc. Coincide também com a proximidade da Assembleia Geral da ONU que, no próximo mês de setembro, discutirá o reconhecimento do Estado Palestino.
6 – Coincide ainda com a movimentação imperialista para ampliar seletivamente a agressão militar no Norte da África e no Oriente Médio, para além do Iraque e do Afeganistão. Coincide com a descarada intervenção militar na Líbia, com as provocações contra a Síria e o Irã, acusados de solidários aos palestinos e de apoio ao "terrorismo".
7 – As raivosas declarações das autoridades israelenses sobre a unidade das citadas organizações políticas palestinas deixam em evidência que Israel não tem qualquer interesse na paz na região e muito menos na criação do Estado Palestino. Fica claro que o objetivo do sionismo é ocupar todo o território palestino, através dos assentamentos ilegais, transformando o antigo território palestino no que chamam de Grande Israel, para inviabilizar na prática uma decisão da ONU, de 1948 - da coexistência pacífica de dois Estados, no território até então exclusivamente palestino -, boicotada pelos israelenses há mais de sessenta anos!
8 – Não tememos qualquer processo judicial, porque conhecemos as leis brasileiras, que têm como cláusula pétrea constitucional o livre direito de expressão e a proibição da censura.
9 – Mesmo que prosperasse esta absurda afronta às liberdades democráticas, estamos certos de que teríamos a solidariedade firme e militante de centenas de organizações políticas e sociais e personalidades democráticas, não só do Brasil, mas de todo o mundo.
10 – Não há, em qualquer documento do PCB, qualquer intolerância religiosa, étnica e racial contra qualquer povo ou comunidade. Criticar a direita sionista não significa criticar a comunidade judaica que, no Brasil e no mundo, é composta também por militantes democratas, humanistas e comunistas, que lutam contra a política terrorista e imperialista do Estado de Israel e se solidarizam com o povo palestino. O PCB tem uma vasta e orgulhosa tradição, desde a sua fundação até os dias de hoje, de contar com militantes e amigos de origem judaica.
11 – Os comunistas, em todo o mundo, somos contra qualquer intolerância religiosa ou étnica, contra preconceitos e nacionalismos xenófobos, porque lutamos por um mundo de iguais, sem fronteiras, sem Estado, sem forças armadas, sem opressores e oprimidos. Não entendemos o que a CONIB quer dizer com a expressão "intolerância racial", pois todos os povos pertencem à mesma raça humana. A não ser que assim pensem os que se acreditam pertencentes a uma "raça superior", escolhida por alguma divindade.
12 – Os comunistas do mundo inteiro tiveram papel decisivo na luta contra o nazi-fascismo que vitimou dramaticamente os judeus, mas também a muitos outros povos. O povo russo, dirigido pelo Partido Comunista da União Soviética, foi o que entregou mais vidas em defesa da humanidade, mais de 20 milhões, principalmente de seus jovens.
13 – O sítio do PCB na internet é um espaço de difusão não apenas das opiniões do Partido, mas de outras organizações e personalidades com alguma afinidade política, porque objetiva também prestar informação e fomentar o debate sobre questões candentes, nacionais e internacionais. Na primeira página de nosso portal ( www.pcb.org.br ), deixamos claro que:
"Só publicamos nesta página textos que coadunam, no fundamental, com a linha política do PCB, a critério dos editores (Secretariado Nacional do CC). Quando não assinados por instâncias do CC, os textos publicados refletem a opinião dos autores".
14 - Com o texto questionado pela central sionista brasileira temos uma identidade política, na medida em que ele denuncia a impunidade de Israel, os massacres que este Estado comete contra o povo palestino, o seu importante papel econômico e militar no contexto do imperialismo. Publicamo-lo como contribuição a um debate necessário, ainda que algumas opiniões ali expostas possam diferir, em alguns aspectos, de nossa análise marxista da luta de classes no âmbito mundial. Para nós, o sionismo não é o "Comitê Central" do imperialismo nem o único "dono do poder", mas sócio e parte importante de sua engrenagem, uma significativa linha auxiliar com forte lobby internacional, enorme peso na mídia hegemômica, na economia mundial e na máquina de guerra imperialista.
15 – Sem preocupação com ameaças de qualquer tipo, estamos aqui oficialmente oferecendo à direção da Confederação Israelita do Brasil o direito de resposta, no mesmo espaço em que divulgamos o artigo criticado, para que a entidade possa se contrapor aos argumentos expostos pelo autor do texto "Os Donos do Sistema". Como certamente o texto da CONIB será uma exceção ao nosso critério da afinidade política, nos reservaremos o direito de publicá-lo com comentários de nosso Partido.
16 – Este convite, além de democrático, atende à preocupação da CONIB, embora injustificada, de que sua finalidade, ao adotar a medida judicial, é "evitar que abusos e inverdades desencadeiem preconceitos contra a comunidade judaica brasileira". Portanto, estejam à vontade para enviar ao nosso endereço eletrônico os seus pontos de vista.
17 – Esperamos também que a recíproca seja verdadeira, ou seja, que a CONIB publique em sua página a íntegra da presente nota política do PCB. Aproveitamos para sugerir que, no documento que nos mandarem, possamos conhecer suas posições em relação às Resoluções do último Congresso Nacional do PCB, a respeito do tema, e que transcrevemos aqui na íntegra:
"XIV Congresso Nacional do PCB (outubro de 2009):
DECLARAÇÃO DE APOIO À CONSTRUÇÃO DO ESTADO PALESTINO DEMOCRÁTICO, POPULAR E LAICO, SOBRE O SOLO PÁTRIO HISTÓRICO:
1) Pelo fim imediato da ocupação israelense nos territórios tomados em 1967, fazendo valer o inalienável direito à autodeterminação do povo palestino sobre estes territórios;
2) Aplicação de todas as resoluções internacionais não acatadas pelo sionismo;
3) Garantia aos refugiados (atualmente, 65% da totalidade do povo palestino) de retorno às terras de onde foram expulsos (Resolução 194 da ONU);
4) Libertação imediata dos cerca de 11.000 prisioneiros, entre eles Ahmad Saadat, Secretário Geral da FPLP, e outros dirigentes da esquerda;
5) Reconstrução da OLP, ou seja, reconstrução da unidade política necessária às tarefas que estão colocadas para o bravo povo palestino, com garantia de participação democrática de todas as forças políticas representativas dos palestinos;
6) Apoio irrestrito a todas as formas de resistência do povo palestino;
7) Destruição do muro do apartheid, conforme resolução do Tribunal de Haia;
8) Demolição e retirada de todos os assentamentos judaicos na Cisjordânia/Jerusalém;
9) Fim imediato do bloqueio assassino a Gaza;
10) Pelo fomento de campanha internacional para levar os criminosos de guerra sionistas aos tribunais de justiça, dentre os quais, o Tribunal Internacional de Haia.
11) Estabelecimento de sólida relação entre os partidos comunistas irmãos para concretizar ações de solidariedade e, em especial, apoio logístico à materialização desta luta;
12) Apoio a todas as iniciativas que visem estreitar laços entre os partidos da esquerda palestina, em especial a Frente Democrática pela Libertação da Palestina (FDLP), a Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), Partido do Povo Palestino, em unidade concreta programática e de ação.
POR UM ESTADO PALESTINO DEMOCRÁTICO, POPULAR, LAICO, SOBRE O SOLO PÁTRIO HISTÓRICO! PELA TOTAL INDEPENDÊNCIA E AUTONOMIA DOS TERRITÓRIOS OCUPADOS EM 1967! PELO RETORNO DOS REFUGIADOS E JERUSALÉM CAPITAL! LIBERTAÇÃO DE TODOS OS 11.000 PRISIONEIROS PALESTINOS! PELA CONDENAÇÃO INTERNACIONAL DOS CRIMINOSOS DE GUERRA!"
18 – Mas voltando ao artigo que gerou a representação, para que as críticas da CONIB se centrem na contestação às informações ali prestadas - ao invés de se esconderem sob o manto autoritário do carimbo "antissemita" -, sugerimos que releiam o texto, sem sectarismo nem preconceito. Verão que ele pode ter equívocos na forma de sua correta condenação ao Estado de Israel, mas não tem qualquer intolerância religiosa ou étnica.
19 – O texto, em nenhum momento, atinge o povo judeu, mas à sua liderança hegemônica - direitista, sionista e terrorista - deixando claro que nem todos os judeus concordam com seus métodos e que há vários intelectuais, organizações e militantes judeus que condenam e protestam contra o genocídio em Gaza e outras violências do Estado de Israel.
20 – Leiamos novamente algumas passagens do artigo de Manuel Freytas:
"Israel não invadiu nem perpetrou um genocídio militar em Gaza com a religião judia, senão com aviões F-16, bombas de rácimo, helicópteros Apache, tanques, artilharia pesada, barcos, sistemas informatizados, e uma estratégia e um plano de extermínio militar em grande escala. Quem questione esse massacre é condenado por "anti-semita" pelo poder judeu mundial distribuído pelo mundo".
"O lobby sionista pró-israelense não reza nas sinagogas, senão na Catedral de Wall Street: um detalhe a ter em conta, para não confundir a religião com o mito e com o negócio".
"As campanhas de denúncia de antissemitismo com as quais Israel e organizações judias buscam neutralizar as críticas contra o massacre, abordam a questão como se o sionismo judeu (sustentáculo do Estado de Israel) fosse uma questão "racial" ou religiosa, e não um sistema de domínio imperial que abarca interativamente o plano econômico, político, social e cultural, superando a questão da raça ou das crenças religiosas".
"A esse poder (o lobby sionista internacional), e não ao Estado de Israel, é o que temem os presidentes, políticos, jornalistas e intelectuais que calam ou deformam diariamente os genocídios de Israel no Oriente Médio, temerosos de ficarem sepultados em vida, sob a lápide do "antissemitismo".
22 - Estejam certos de que não calarão nem sepultarão o PCB em vida, tarefa que não foi possível nem para as mais cruéis ditaduras de direita que marcaram a história do nosso país. Prenderam, exilaram, assassinaram, desapareceram com muitos comunistas, no Brasil e no mundo, por lutarem contra a opressão, pela autodeterminação dos povos, pelas liberdades democráticas e contra o nazi-fascismo.
Exigimos respeito!
Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional
Maio de 2011
Observações:
1 – Este e outros artigos de Manuel Freytas são publicados, entre muitos outros, nos seguintes sítios:
• www.resumenlatinoamericano.org/...
• http://www.aporrea.org/actualidad/n158685.html
• http://colombia.indymedia.org/news/2010/06/115437.php
• http://www.voltairenet.org/article165990.html#article165990
• http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/os-donos-do-sistema-este
• http://port.pravda.ru/busines/14-06-2010/29887-impunidade_israel-0/
• engforum.pravda.ru/...
• http://www.rebelion.org/mostrar.php?tipo=5&id=Manuel%20Freytas&inicio=0 )
• www.cubadebate.cu/noticias/...
• visionesalternativas.com/...
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• www.burbuja.info/...
• http://www.infoeducasares.com.ar/?p=928
• noticiaoficial.com/...
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• http://estavoz.blogspot.com/2010/08/el-poder-oculto-de-donde-nace-la.html
• http://chicodias.wordpress.com/2010/06/14/sionismo-um-poder-mundial/
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• agal-gz.org/...
• http://anjaoudemonia.blogspot.com/2010/09/os-homens-por-tras-das-cortinas.html
2 – Segundo levantamento feito pela Federação Árabe-Palestina, apenas em 2011, a CIA destinou 120 milhões de dólares, para financiar o sistema de difamação da religião islâmica no Brasil.
3 – O mesmo texto usado pelo sionismo contra o PCB é usado como pretexto para o mesmo tipo de ação intimidatória na Venezuela, num relatório denominado "Antisemitismo en Venezuela", de autoria de uma organização à qual a CONIB é ligada, chamada ADL (Anti-Defamation League), que em português significa Liga contra a Difamação. Apesar do nome genérico da entidade, ela só criminaliza e intimida o que considera difamação "anti-semita". Veja a página 16 do sítio htpp://www.adl.org.
4 – neste momento, Israel está usando os céus da Grécia, por autorização do governo local, para treinar seus pilotos e testar seus aviões militares para um possível ataque ao Irã, cuja topografia tem características semelhantes às do país helênico.
5 – nos próximos dias, estaremos publicando aqui nesta página vários textos de judeus progressistas e comunistas, inclusive israelenses, contra o sionismo e a utilização do carimbo "antissemitismo" como forma de censurar denúncias contra o Estado de Israel.
14 junho 2011, Resistir.Info http://resistir.info (Portugal)
O original encontra-se em www.pcb.org.br/... (Brasil)
por PCB
Fomos informados de que uma entidade chamada CONIB (Confederação Israelita do Brasil) teria formalizado, no início deste mês, representação contra o PCB (Partido Comunista Brasileiro), junto ao TSE, alegando prática de "antissemitismo", por ter a página do partido na internet publicado artigo denominado "Os Donos do Sistema: o Poder Oculto; de Onde Nasce a Impunidade de Israel".
Na apresentação de seu portal, a entidade se assume sionista, posiciona-se "na linha de frente do combate ao antissemitismo" e oferece "links" para todas as organizações sionistas de Israel, dos Estados Unidos e de âmbito mundial ou nacionais, a imensa maioria de direita.
Apesar de ainda não conhecermos os termos da representação (não divulgada pela entidade), inferimos que sua verdadeira intenção é tentar cassar o registro do PCB, como se se fosse possível calar a voz dos verdadeiros comunistas brasileiros. Nosso partido – o mais antigo do Brasil, fundado em 1922 - foi escolhido criteriosamente para esta ofensiva por razões que nos orgulham. Além de lutarmos pela superação do capitalismo, praticamos com firmeza e independência o internacionalismo proletário, a solidariedade a todos os povos em luta contra o imperialismo e o sionismo, cujo significado não se refere ao seu conteúdo original, mas ao caráter atual do movimento, hegemonicamente fascista e imperialista.
A nosso ver, trata-se de uma ação política, muito mais do que jurídica.
O texto que provocou a reação da CONIB é de autoria do jornalista argentino Manuel Freytas, divulgado originalmente no sítio eletrônico IAR Notícias, e reproduzido mundialmente em pelo menos mais de trinta portais progressistas e anti-imperialistas, listados ao final desta nota.
Segundo a apócrifa nota publicada pela citada CONIB ( www.conib.org.br ), o texto se utiliza "de imagens apelativas, distorções da realidade e argumentos conspiratórios e claramente anti-semitas", revelando "alto grau de desconhecimento do cenário político-econômico internacional", por repetir (agora no século 21!) chavões da obra "Os Protocolos dos Sábios de Sião, farsa montada pela polícia czarista da Rússia, no século 19". Assim, o PCB é acusado de "incentivar a discriminação e a proliferação da intolerância religiosa, étnica e racial em nosso país".
Termina a nota afirmando que a representação baseia-se na Lei Orgânica dos Partidos Políticos, com a "finalidade de evitar que abusos e inverdades desencadeiem preconceitos contra a comunidade judaica brasileira".
Diante deste fato, o PCB vem a público se pronunciar:
1 – O PCB não se intimidará diante da pressão de organizações sionistas de direita e continuará prestando ampla, geral e irrestrita solidariedade ao povo palestino, vítima da escandalosa impunidade de Israel, tema do artigo considerado ofensivo. Desrespeitando todas as Resoluções da ONU, o estado israelense continua ampliando a ocupação de territórios dos palestinos, derrubando suas casas, criando o chamado "Muro do Apartheid", invadindo e cercando a Faixa de Gaza, onde impede a entrada de ajuda humanitária (inclusive alimentos e medicamentos), assassinando e prendendo militantes palestinos, mantendo mais de 11.000 deles em condições abjetas em seus cárceres. Mais do que isso, continuaremos a denunciar que Israel se transformou numa enorme base militar norte-americana no Oriente Médio. O país é o primeiro destino da ajuda militar estadunidense no mundo e o único do Oriente Médio a ter direito a armas nucleares, sem permitir a inspeção internacional que exige de outros países.
2 – Esta ofensiva contra o PCB se deve ao fato de que apoiamos e participamos dos diversos Comitês de Solidariedade ao Povo Palestino que se consolidam e se multiplicam pelo Brasil. No nosso portal, este texto foi escolhido aleatoriamente, pois com uma simples pesquisa se pode verificar que ali os artigos e informações sobre a luta contra a política terrorista do Estado de Israel se contam às centenas, muitos deles mais contundentes que o escolhido para ofender a liberdade de imprensa consagrada em nosso país e tentar intimidar e criminalizar o PCB. Publicamo-lo exatamente há um ano, mas só agora ele foi "descoberto".
3 – É significativo que esta atitude intimidatória (que está se dando em vários países) ocorra no exato momento em que as duas maiores organizações políticas palestinas (Fatah e Hamas) anunciam a retomada de seus entendimentos e o desejo de dividir a responsabilidade pela administração dos territórios palestinos, que foram separados arbitrariamente pelas forças militares israelenses com o uso da violência e da ocupação.
4 – A unidade dessas duas organizações contraria os planos imperialistas de divisão sectária entre os palestinos – exatamente porque cria melhores condições para o reconhecimento internacional do Estado Palestino e para uma negociação pela paz na região -, tudo que Israel não deseja, apesar das reiteradas resoluções da ONU nesse sentido.
5 – Esta atitude arbitrária de perseguição política coincide também com a satanização do mundo muçulmano, este sim vítima de preconceitos e estigmatização, sem que a mídia burguesa se utilize de expressões como "anti-islamismo", "anti-xiitismo", "anti-sunitismo" etc. Coincide também com a proximidade da Assembleia Geral da ONU que, no próximo mês de setembro, discutirá o reconhecimento do Estado Palestino.
6 – Coincide ainda com a movimentação imperialista para ampliar seletivamente a agressão militar no Norte da África e no Oriente Médio, para além do Iraque e do Afeganistão. Coincide com a descarada intervenção militar na Líbia, com as provocações contra a Síria e o Irã, acusados de solidários aos palestinos e de apoio ao "terrorismo".
7 – As raivosas declarações das autoridades israelenses sobre a unidade das citadas organizações políticas palestinas deixam em evidência que Israel não tem qualquer interesse na paz na região e muito menos na criação do Estado Palestino. Fica claro que o objetivo do sionismo é ocupar todo o território palestino, através dos assentamentos ilegais, transformando o antigo território palestino no que chamam de Grande Israel, para inviabilizar na prática uma decisão da ONU, de 1948 - da coexistência pacífica de dois Estados, no território até então exclusivamente palestino -, boicotada pelos israelenses há mais de sessenta anos!
8 – Não tememos qualquer processo judicial, porque conhecemos as leis brasileiras, que têm como cláusula pétrea constitucional o livre direito de expressão e a proibição da censura.
9 – Mesmo que prosperasse esta absurda afronta às liberdades democráticas, estamos certos de que teríamos a solidariedade firme e militante de centenas de organizações políticas e sociais e personalidades democráticas, não só do Brasil, mas de todo o mundo.
10 – Não há, em qualquer documento do PCB, qualquer intolerância religiosa, étnica e racial contra qualquer povo ou comunidade. Criticar a direita sionista não significa criticar a comunidade judaica que, no Brasil e no mundo, é composta também por militantes democratas, humanistas e comunistas, que lutam contra a política terrorista e imperialista do Estado de Israel e se solidarizam com o povo palestino. O PCB tem uma vasta e orgulhosa tradição, desde a sua fundação até os dias de hoje, de contar com militantes e amigos de origem judaica.
11 – Os comunistas, em todo o mundo, somos contra qualquer intolerância religiosa ou étnica, contra preconceitos e nacionalismos xenófobos, porque lutamos por um mundo de iguais, sem fronteiras, sem Estado, sem forças armadas, sem opressores e oprimidos. Não entendemos o que a CONIB quer dizer com a expressão "intolerância racial", pois todos os povos pertencem à mesma raça humana. A não ser que assim pensem os que se acreditam pertencentes a uma "raça superior", escolhida por alguma divindade.
12 – Os comunistas do mundo inteiro tiveram papel decisivo na luta contra o nazi-fascismo que vitimou dramaticamente os judeus, mas também a muitos outros povos. O povo russo, dirigido pelo Partido Comunista da União Soviética, foi o que entregou mais vidas em defesa da humanidade, mais de 20 milhões, principalmente de seus jovens.
13 – O sítio do PCB na internet é um espaço de difusão não apenas das opiniões do Partido, mas de outras organizações e personalidades com alguma afinidade política, porque objetiva também prestar informação e fomentar o debate sobre questões candentes, nacionais e internacionais. Na primeira página de nosso portal ( www.pcb.org.br ), deixamos claro que:
"Só publicamos nesta página textos que coadunam, no fundamental, com a linha política do PCB, a critério dos editores (Secretariado Nacional do CC). Quando não assinados por instâncias do CC, os textos publicados refletem a opinião dos autores".
14 - Com o texto questionado pela central sionista brasileira temos uma identidade política, na medida em que ele denuncia a impunidade de Israel, os massacres que este Estado comete contra o povo palestino, o seu importante papel econômico e militar no contexto do imperialismo. Publicamo-lo como contribuição a um debate necessário, ainda que algumas opiniões ali expostas possam diferir, em alguns aspectos, de nossa análise marxista da luta de classes no âmbito mundial. Para nós, o sionismo não é o "Comitê Central" do imperialismo nem o único "dono do poder", mas sócio e parte importante de sua engrenagem, uma significativa linha auxiliar com forte lobby internacional, enorme peso na mídia hegemômica, na economia mundial e na máquina de guerra imperialista.
15 – Sem preocupação com ameaças de qualquer tipo, estamos aqui oficialmente oferecendo à direção da Confederação Israelita do Brasil o direito de resposta, no mesmo espaço em que divulgamos o artigo criticado, para que a entidade possa se contrapor aos argumentos expostos pelo autor do texto "Os Donos do Sistema". Como certamente o texto da CONIB será uma exceção ao nosso critério da afinidade política, nos reservaremos o direito de publicá-lo com comentários de nosso Partido.
16 – Este convite, além de democrático, atende à preocupação da CONIB, embora injustificada, de que sua finalidade, ao adotar a medida judicial, é "evitar que abusos e inverdades desencadeiem preconceitos contra a comunidade judaica brasileira". Portanto, estejam à vontade para enviar ao nosso endereço eletrônico os seus pontos de vista.
17 – Esperamos também que a recíproca seja verdadeira, ou seja, que a CONIB publique em sua página a íntegra da presente nota política do PCB. Aproveitamos para sugerir que, no documento que nos mandarem, possamos conhecer suas posições em relação às Resoluções do último Congresso Nacional do PCB, a respeito do tema, e que transcrevemos aqui na íntegra:
"XIV Congresso Nacional do PCB (outubro de 2009):
DECLARAÇÃO DE APOIO À CONSTRUÇÃO DO ESTADO PALESTINO DEMOCRÁTICO, POPULAR E LAICO, SOBRE O SOLO PÁTRIO HISTÓRICO:
1) Pelo fim imediato da ocupação israelense nos territórios tomados em 1967, fazendo valer o inalienável direito à autodeterminação do povo palestino sobre estes territórios;
2) Aplicação de todas as resoluções internacionais não acatadas pelo sionismo;
3) Garantia aos refugiados (atualmente, 65% da totalidade do povo palestino) de retorno às terras de onde foram expulsos (Resolução 194 da ONU);
4) Libertação imediata dos cerca de 11.000 prisioneiros, entre eles Ahmad Saadat, Secretário Geral da FPLP, e outros dirigentes da esquerda;
5) Reconstrução da OLP, ou seja, reconstrução da unidade política necessária às tarefas que estão colocadas para o bravo povo palestino, com garantia de participação democrática de todas as forças políticas representativas dos palestinos;
6) Apoio irrestrito a todas as formas de resistência do povo palestino;
7) Destruição do muro do apartheid, conforme resolução do Tribunal de Haia;
8) Demolição e retirada de todos os assentamentos judaicos na Cisjordânia/Jerusalém;
9) Fim imediato do bloqueio assassino a Gaza;
10) Pelo fomento de campanha internacional para levar os criminosos de guerra sionistas aos tribunais de justiça, dentre os quais, o Tribunal Internacional de Haia.
11) Estabelecimento de sólida relação entre os partidos comunistas irmãos para concretizar ações de solidariedade e, em especial, apoio logístico à materialização desta luta;
12) Apoio a todas as iniciativas que visem estreitar laços entre os partidos da esquerda palestina, em especial a Frente Democrática pela Libertação da Palestina (FDLP), a Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), Partido do Povo Palestino, em unidade concreta programática e de ação.
POR UM ESTADO PALESTINO DEMOCRÁTICO, POPULAR, LAICO, SOBRE O SOLO PÁTRIO HISTÓRICO! PELA TOTAL INDEPENDÊNCIA E AUTONOMIA DOS TERRITÓRIOS OCUPADOS EM 1967! PELO RETORNO DOS REFUGIADOS E JERUSALÉM CAPITAL! LIBERTAÇÃO DE TODOS OS 11.000 PRISIONEIROS PALESTINOS! PELA CONDENAÇÃO INTERNACIONAL DOS CRIMINOSOS DE GUERRA!"
18 – Mas voltando ao artigo que gerou a representação, para que as críticas da CONIB se centrem na contestação às informações ali prestadas - ao invés de se esconderem sob o manto autoritário do carimbo "antissemita" -, sugerimos que releiam o texto, sem sectarismo nem preconceito. Verão que ele pode ter equívocos na forma de sua correta condenação ao Estado de Israel, mas não tem qualquer intolerância religiosa ou étnica.
19 – O texto, em nenhum momento, atinge o povo judeu, mas à sua liderança hegemônica - direitista, sionista e terrorista - deixando claro que nem todos os judeus concordam com seus métodos e que há vários intelectuais, organizações e militantes judeus que condenam e protestam contra o genocídio em Gaza e outras violências do Estado de Israel.
20 – Leiamos novamente algumas passagens do artigo de Manuel Freytas:
"Israel não invadiu nem perpetrou um genocídio militar em Gaza com a religião judia, senão com aviões F-16, bombas de rácimo, helicópteros Apache, tanques, artilharia pesada, barcos, sistemas informatizados, e uma estratégia e um plano de extermínio militar em grande escala. Quem questione esse massacre é condenado por "anti-semita" pelo poder judeu mundial distribuído pelo mundo".
"O lobby sionista pró-israelense não reza nas sinagogas, senão na Catedral de Wall Street: um detalhe a ter em conta, para não confundir a religião com o mito e com o negócio".
"As campanhas de denúncia de antissemitismo com as quais Israel e organizações judias buscam neutralizar as críticas contra o massacre, abordam a questão como se o sionismo judeu (sustentáculo do Estado de Israel) fosse uma questão "racial" ou religiosa, e não um sistema de domínio imperial que abarca interativamente o plano econômico, político, social e cultural, superando a questão da raça ou das crenças religiosas".
"A esse poder (o lobby sionista internacional), e não ao Estado de Israel, é o que temem os presidentes, políticos, jornalistas e intelectuais que calam ou deformam diariamente os genocídios de Israel no Oriente Médio, temerosos de ficarem sepultados em vida, sob a lápide do "antissemitismo".
22 - Estejam certos de que não calarão nem sepultarão o PCB em vida, tarefa que não foi possível nem para as mais cruéis ditaduras de direita que marcaram a história do nosso país. Prenderam, exilaram, assassinaram, desapareceram com muitos comunistas, no Brasil e no mundo, por lutarem contra a opressão, pela autodeterminação dos povos, pelas liberdades democráticas e contra o nazi-fascismo.
Exigimos respeito!
Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional
Maio de 2011
Observações:
1 – Este e outros artigos de Manuel Freytas são publicados, entre muitos outros, nos seguintes sítios:
• www.resumenlatinoamericano.org/...
• http://www.aporrea.org/actualidad/n158685.html
• http://colombia.indymedia.org/news/2010/06/115437.php
• http://www.voltairenet.org/article165990.html#article165990
• http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/os-donos-do-sistema-este
• http://port.pravda.ru/busines/14-06-2010/29887-impunidade_israel-0/
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2 – Segundo levantamento feito pela Federação Árabe-Palestina, apenas em 2011, a CIA destinou 120 milhões de dólares, para financiar o sistema de difamação da religião islâmica no Brasil.
3 – O mesmo texto usado pelo sionismo contra o PCB é usado como pretexto para o mesmo tipo de ação intimidatória na Venezuela, num relatório denominado "Antisemitismo en Venezuela", de autoria de uma organização à qual a CONIB é ligada, chamada ADL (Anti-Defamation League), que em português significa Liga contra a Difamação. Apesar do nome genérico da entidade, ela só criminaliza e intimida o que considera difamação "anti-semita". Veja a página 16 do sítio htpp://www.adl.org.
4 – neste momento, Israel está usando os céus da Grécia, por autorização do governo local, para treinar seus pilotos e testar seus aviões militares para um possível ataque ao Irã, cuja topografia tem características semelhantes às do país helênico.
5 – nos próximos dias, estaremos publicando aqui nesta página vários textos de judeus progressistas e comunistas, inclusive israelenses, contra o sionismo e a utilização do carimbo "antissemitismo" como forma de censurar denúncias contra o Estado de Israel.
domingo, 22 de maio de 2011
“NÃO VALE A PENA REJUBILAR...”
Os jovens homens e mulheres da Praça Tahrir, com o seu desejo de liberdade, relegaram Bin Laden para a história meses antes da sua morte física.
18 maio 2011, Esquerda.net http://www.esquerda.net (Portugal)
Uri Avnery*
“Não a vale a pena rejubilar quando o teu inimigo cair, nem deixes que o teu coração se alegre quando ele tropeçar, / Não deixes que Deus o veja, pois isso irá desagradá-lo, e voltará a sua ira contra ti.”
Esta é uma das mais belas passagens da Bíblia (Provérbios 24:17-18) e até mesmo da língua hebraica. É igualmente bela em outras línguas, de tal forma que nenhuma tradução se aproxima da beleza do original.
Efectivamente, é natural que nos alegremos quando o nosso inimigo é derrotado e a sede de vingança é uma característica humana. No entanto, expressar satisfação é algo totalmente diferente. Algo muito feio.
Uma lenda hebraica muito antiga conta que Deus se enfureceu quando os Filhos de Israel rejubilaram quando os seus perseguidores egípcios se afogaram no mar.“As minhas criaturas estão a afogar-se no mar,”advertiu-lhes Deus com total reprovação, “e vós cantais?”
Estas ideias atravessaram o meu pensamento quando vi as imagens na TV de multidões rejubilantes de jovens americanos a cantar e a dançar nas ruas. É natural, mas inconveniente. Os rostos contorcidos e a linguagem corporal agressiva não eram diferentes daqueles das multidões no Sudão ou na Somália. Os lados mais feios da natureza humana parecem ser muito semelhantes em qualquer parte.
* * *
A alegria pode ser prematura. Muito provavelmente a Al-Qaeda não morreu com Osama bin-Laden. A consequência pode ser totalmente diferente.
Em 1942, os britânicos mataram Abraham Stern, a quem apelidaram de terrorista. Stern, cujo nome de guerra era Ya’ir, estava escondido num armário de um apartamento em Tel Aviv. Também neste caso foram as idas e vindas do seu correio que o denunciaram. Depois de se assegurarem que correspondia ao homem que procuravam, o agente da polícia britânica alvejou-o.
Não foi esse o fim do seu grupo – pelo contrário, foi o início. Transformou-se na maldição do domínio britânico na Palestina. Conhecido como o “Gang de Stern” (o seu verdadeiro nome era “Lutadores para a Liberdade de Israel”), levou a cabo os ataques mais terríveis sobre as instalações britânicas e desempenhou um papel muito significativo na tentativa de fazer com que o poder colonial abandonasse o país.
O Hamas não morreu quando a força aérea israelita matou o Sheikh Ahmad Yassin, o fundador paralítico, ideólogo e símbolo do Hamas. Enquanto mártir, ele foi bem mais eficaz que durante a sua liderança em vida. O seu martírio atraiu muitos mais apoiantes para a causa. Matar uma pessoa não mata uma ideia. Os cristãos chegaram mesmo a adoptar a cruz como o seu símbolo.
* * *
Qual foi a ideia que transformou Osama bin Laden numa figura mundialmente conhecida?
Ele pregava a restauração do Califado do início dos tempos muçulmanos, que era não só um vasto império, como também um centro das ciências e das artes, poesia e literatura, quando a Europa era ainda bárbara e um continente medieval. Todas as crianças árabes estudam as suas glórias e não podem evitar de as comparar com a situação actual.
(De certa forma, estas lembranças assemelham-se aos sonhos românticos sionistas da ressurreição de um reino de David e Salomão.)
Um novo Califado no século XXI é tão improvável quanto a criação mais extravagante da nossa imaginação. Teria sido diametralmente oposto ao Zeitgeist, não fosse pelos seus opositores – os americanos. Eles precisavam mais deste sonho – ou pesadelo – que os próprios muçulmanos.
O Império Americano necessita sempre de um antagonista para o manter vivo e em quem focar as suas energias. Este tem de ser um inimigo mundial, um advogado sinistro de uma filosofia do Mal.
Tal como foram os Nazis e o Japão Imperial, mas duraram pouco tempo. Para felicidade deles, havia na altura o Império Comunista, que se enquadrava perfeitamente nesse papel.
Havia comunistas por toda a parte. Todos eles orquestraram a queda da liberdade, da democracia e dos Estados Unidos da América. Eles escondiam-se inclusivamente dentro dos EUA, como J. Edgar Hoover e o Senador Joe McCarthy demonstraram de forma tão convincente.
Durante décadas, os EUA prosperaram na guerra contra a Ameaça Vermelha; as suas forças espalharam-se por todo o mundo, as suas naves espaciais chegaram à Lua, as suas mentes mais brilhantes travaram uma batalha de ideias titânica, os Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas.
E subitamente tudo isso colapsou. O poder soviético desapareceu como se nunca tivesse existido. As agência americanas de espionagem, com as suas tremendas capacidades, foram surpreendidas. Aparentemente, elas não tinham qualquer ideia de quão desmantelada estava já a estrutura soviética. Como é podiam ver isso, cegos como estavam pelas suas próprias ideias preconcebidas?
O desaparecimento da ameaça comunista deixou um vazio na psique americana, que ansiava por ser preenchido. Osama bin Laden ofereceu os seus préstimos prontamente.
Era necessário, como é óbvio, um acontecimento que chocasse o mundo para garantir a credibilidade a esta utopia precipitada. O 11 de Setembro foi o tal acontecimento. Produziu inúmeras mudanças no estilo de vida americano. E um novo inimigo global.
Subitamente, os preconceitos anti-islâmicos medievais foram retirados das gavetas para todo o mundo. Islão o terrível, o assassino, o fanático. Islão o anti-democrático, o anti-liberdade, o anti-todos-os-nossos-valores. Bombistas suicidas, 72 virgens, jihad.
Os EUA voltam a renascer. Estão por todo o mundo soldados, espiões e forças especiais para derrotar o terrorismo. O Bin Laden está em todo o lado. A Luta Contra o Terrorismo é uma luta apocalíptica contra Satã.
É preciso restringir as liberdades americanas e a máquina militar americana cresce por todos os lados. Os intelectuais com fome de poder falam sobre o confronto de civilizações e vendem as suas almas pela fama instantânea.
Para produzir a dor sensacionalista a partir de uma imagem de tal forma distorcida da realidade, os grupos religiosos islâmicos são todos postos no mesmo saco – os Taliban no Afeganistão, os Aiatolás no Irão, o Hezbollah no Líbano, o Hamas na Palestina, os separatistas indonésios, a Irmandade Muçulmana no Egipto e, em qualquer parte, quem quer que seja. Todos são a Al-Qaeda, apesar dos objectivos totalmente diferentes de cada um, focados no seu próprio país, enquanto se acredita que o bin Laden deseja abolir todos os estados muçulmanos para criar um Império Islâmico Sagrado. Detalhes, detalhes.
A Guerra Santa contra a Jihad encontra combatentes em toda a parte. Demagogos ambiciosos, para quem isto promete servir para enfurecer as massas, espalhar-se por muitos países, desde a França à Finlândia, passando pela Holanda e pela Itália. A histeria da islamofobia afasta o antigo preconceito anti-semita, recorrendo praticamente à mesma linguagem. Os regimes tiranos apresentam-se como baluartes contra a Al-Qaeda, como antes se apresentavam como baluartes contra o comunismo. E, claro, Benjamin Netanyahu explora a situação como pode, viajando de capital em capital, vendendo as suas ideias de anti-Islamismo.
Bin Laden tinha boas razões para se sentir orgulhoso e provavelmente estava.
* * *
Quando vi a fotografia dele pela primeira vez, brinquei a dizer que ele não parecia uma pessoa real, mas sim um actor saído de um casting de Hollywood. Parecia demasiado bom para ser verdade – exactamente como apareceria num filme de Hollywood – um homem charmoso, com uma grande barba preta, em pose com uma Kalashnikov. As suas aparições na TV foram cuidadosamente encenadas.
Na realidade, era um terrorista totalmente incompetente, um verdadeiro amador. Nenhum verdadeiro terrorista teria vivido numa mansão que sobressaia daquela forma na paisagem. Stern estava escondido num pequeno sótão num apartamento algures num bairro pobre de Tel Aviv. Menachem Begin viveu com a sua esposa e o seu filho num modesto rés-do-chão, disfarçado de um rabi solitário.
A mansão de Bin Laden tinha tudo para atrair as atenções dos vizinhos e de outras pessoas. Qualquer um ficaria curioso acerca deste estranho misterioso instalado entre eles. Na verdade, deveria ter sido descoberto há muito tempo. Ele estava desarmado e não retaliou. A decisão de o matarem no local e lançarem o seu corpo ao mar foi claramente tomada muito antes.
Por isso, não existe qualquer campa, nem túmulo sagrado. Porém, para milhões de muçulmanos, e especialmente para os árabes, ele era e permanece ainda como uma fonte de orgulho, um herói árabe, o “leão dos leões”, como um pregador em Jerusalém o designou. Praticamente ninguém se atreveria a sair à rua e afirmar tão abertamente, para terror dos americanos, mas até mesmo aqueles que consideravam as suas ideias impraticáveis e as suas acções perigosas, nos seus corações tinham-lhe respeito.
Será que isso significa que a Al-Qaeda tem futuro? Não acredito. Pertence ao passado – não porque o Bin Laden foi morto, mas porque a sua ideia principal é obsoleta.
A Primavera Árabe personifica um novo conjunto de ideais, um novo entusiasmo, que não glorifica nem anseia por um passado já distante, mas que olha corajosamente para o futuro. Os jovens homens e mulheres da Praça Tahrir, com o seu desejo pela liberdade, relegaram Bin Laden para a história meses antes da sua morte física. A sua filosofia apenas tem futuro caso o Despertar Árabe falhe por completo e deixe para trás um profundo sentimento de desilusão e desespero.
No mundo ocidental, poucos vão chorá-lo, mas Deus proíbe que alguém se regozije.
Publicado originalmente em Gush Shalom Tradução de Sara Vicentepara o Esquerda.net
*Uri Avnery, escritor israelita, jornalista, fundador do movimento de defesa da paz Gush Shalom.
18 maio 2011, Esquerda.net http://www.esquerda.net (Portugal)
Uri Avnery*
“Não a vale a pena rejubilar quando o teu inimigo cair, nem deixes que o teu coração se alegre quando ele tropeçar, / Não deixes que Deus o veja, pois isso irá desagradá-lo, e voltará a sua ira contra ti.”
Esta é uma das mais belas passagens da Bíblia (Provérbios 24:17-18) e até mesmo da língua hebraica. É igualmente bela em outras línguas, de tal forma que nenhuma tradução se aproxima da beleza do original.
Efectivamente, é natural que nos alegremos quando o nosso inimigo é derrotado e a sede de vingança é uma característica humana. No entanto, expressar satisfação é algo totalmente diferente. Algo muito feio.
Uma lenda hebraica muito antiga conta que Deus se enfureceu quando os Filhos de Israel rejubilaram quando os seus perseguidores egípcios se afogaram no mar.“As minhas criaturas estão a afogar-se no mar,”advertiu-lhes Deus com total reprovação, “e vós cantais?”
Estas ideias atravessaram o meu pensamento quando vi as imagens na TV de multidões rejubilantes de jovens americanos a cantar e a dançar nas ruas. É natural, mas inconveniente. Os rostos contorcidos e a linguagem corporal agressiva não eram diferentes daqueles das multidões no Sudão ou na Somália. Os lados mais feios da natureza humana parecem ser muito semelhantes em qualquer parte.
* * *
A alegria pode ser prematura. Muito provavelmente a Al-Qaeda não morreu com Osama bin-Laden. A consequência pode ser totalmente diferente.
Em 1942, os britânicos mataram Abraham Stern, a quem apelidaram de terrorista. Stern, cujo nome de guerra era Ya’ir, estava escondido num armário de um apartamento em Tel Aviv. Também neste caso foram as idas e vindas do seu correio que o denunciaram. Depois de se assegurarem que correspondia ao homem que procuravam, o agente da polícia britânica alvejou-o.
Não foi esse o fim do seu grupo – pelo contrário, foi o início. Transformou-se na maldição do domínio britânico na Palestina. Conhecido como o “Gang de Stern” (o seu verdadeiro nome era “Lutadores para a Liberdade de Israel”), levou a cabo os ataques mais terríveis sobre as instalações britânicas e desempenhou um papel muito significativo na tentativa de fazer com que o poder colonial abandonasse o país.
O Hamas não morreu quando a força aérea israelita matou o Sheikh Ahmad Yassin, o fundador paralítico, ideólogo e símbolo do Hamas. Enquanto mártir, ele foi bem mais eficaz que durante a sua liderança em vida. O seu martírio atraiu muitos mais apoiantes para a causa. Matar uma pessoa não mata uma ideia. Os cristãos chegaram mesmo a adoptar a cruz como o seu símbolo.
* * *
Qual foi a ideia que transformou Osama bin Laden numa figura mundialmente conhecida?
Ele pregava a restauração do Califado do início dos tempos muçulmanos, que era não só um vasto império, como também um centro das ciências e das artes, poesia e literatura, quando a Europa era ainda bárbara e um continente medieval. Todas as crianças árabes estudam as suas glórias e não podem evitar de as comparar com a situação actual.
(De certa forma, estas lembranças assemelham-se aos sonhos românticos sionistas da ressurreição de um reino de David e Salomão.)
Um novo Califado no século XXI é tão improvável quanto a criação mais extravagante da nossa imaginação. Teria sido diametralmente oposto ao Zeitgeist, não fosse pelos seus opositores – os americanos. Eles precisavam mais deste sonho – ou pesadelo – que os próprios muçulmanos.
O Império Americano necessita sempre de um antagonista para o manter vivo e em quem focar as suas energias. Este tem de ser um inimigo mundial, um advogado sinistro de uma filosofia do Mal.
Tal como foram os Nazis e o Japão Imperial, mas duraram pouco tempo. Para felicidade deles, havia na altura o Império Comunista, que se enquadrava perfeitamente nesse papel.
Havia comunistas por toda a parte. Todos eles orquestraram a queda da liberdade, da democracia e dos Estados Unidos da América. Eles escondiam-se inclusivamente dentro dos EUA, como J. Edgar Hoover e o Senador Joe McCarthy demonstraram de forma tão convincente.
Durante décadas, os EUA prosperaram na guerra contra a Ameaça Vermelha; as suas forças espalharam-se por todo o mundo, as suas naves espaciais chegaram à Lua, as suas mentes mais brilhantes travaram uma batalha de ideias titânica, os Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas.
E subitamente tudo isso colapsou. O poder soviético desapareceu como se nunca tivesse existido. As agência americanas de espionagem, com as suas tremendas capacidades, foram surpreendidas. Aparentemente, elas não tinham qualquer ideia de quão desmantelada estava já a estrutura soviética. Como é podiam ver isso, cegos como estavam pelas suas próprias ideias preconcebidas?
O desaparecimento da ameaça comunista deixou um vazio na psique americana, que ansiava por ser preenchido. Osama bin Laden ofereceu os seus préstimos prontamente.
Era necessário, como é óbvio, um acontecimento que chocasse o mundo para garantir a credibilidade a esta utopia precipitada. O 11 de Setembro foi o tal acontecimento. Produziu inúmeras mudanças no estilo de vida americano. E um novo inimigo global.
Subitamente, os preconceitos anti-islâmicos medievais foram retirados das gavetas para todo o mundo. Islão o terrível, o assassino, o fanático. Islão o anti-democrático, o anti-liberdade, o anti-todos-os-nossos-valores. Bombistas suicidas, 72 virgens, jihad.
Os EUA voltam a renascer. Estão por todo o mundo soldados, espiões e forças especiais para derrotar o terrorismo. O Bin Laden está em todo o lado. A Luta Contra o Terrorismo é uma luta apocalíptica contra Satã.
É preciso restringir as liberdades americanas e a máquina militar americana cresce por todos os lados. Os intelectuais com fome de poder falam sobre o confronto de civilizações e vendem as suas almas pela fama instantânea.
Para produzir a dor sensacionalista a partir de uma imagem de tal forma distorcida da realidade, os grupos religiosos islâmicos são todos postos no mesmo saco – os Taliban no Afeganistão, os Aiatolás no Irão, o Hezbollah no Líbano, o Hamas na Palestina, os separatistas indonésios, a Irmandade Muçulmana no Egipto e, em qualquer parte, quem quer que seja. Todos são a Al-Qaeda, apesar dos objectivos totalmente diferentes de cada um, focados no seu próprio país, enquanto se acredita que o bin Laden deseja abolir todos os estados muçulmanos para criar um Império Islâmico Sagrado. Detalhes, detalhes.
A Guerra Santa contra a Jihad encontra combatentes em toda a parte. Demagogos ambiciosos, para quem isto promete servir para enfurecer as massas, espalhar-se por muitos países, desde a França à Finlândia, passando pela Holanda e pela Itália. A histeria da islamofobia afasta o antigo preconceito anti-semita, recorrendo praticamente à mesma linguagem. Os regimes tiranos apresentam-se como baluartes contra a Al-Qaeda, como antes se apresentavam como baluartes contra o comunismo. E, claro, Benjamin Netanyahu explora a situação como pode, viajando de capital em capital, vendendo as suas ideias de anti-Islamismo.
Bin Laden tinha boas razões para se sentir orgulhoso e provavelmente estava.
* * *
Quando vi a fotografia dele pela primeira vez, brinquei a dizer que ele não parecia uma pessoa real, mas sim um actor saído de um casting de Hollywood. Parecia demasiado bom para ser verdade – exactamente como apareceria num filme de Hollywood – um homem charmoso, com uma grande barba preta, em pose com uma Kalashnikov. As suas aparições na TV foram cuidadosamente encenadas.
Na realidade, era um terrorista totalmente incompetente, um verdadeiro amador. Nenhum verdadeiro terrorista teria vivido numa mansão que sobressaia daquela forma na paisagem. Stern estava escondido num pequeno sótão num apartamento algures num bairro pobre de Tel Aviv. Menachem Begin viveu com a sua esposa e o seu filho num modesto rés-do-chão, disfarçado de um rabi solitário.
A mansão de Bin Laden tinha tudo para atrair as atenções dos vizinhos e de outras pessoas. Qualquer um ficaria curioso acerca deste estranho misterioso instalado entre eles. Na verdade, deveria ter sido descoberto há muito tempo. Ele estava desarmado e não retaliou. A decisão de o matarem no local e lançarem o seu corpo ao mar foi claramente tomada muito antes.
Por isso, não existe qualquer campa, nem túmulo sagrado. Porém, para milhões de muçulmanos, e especialmente para os árabes, ele era e permanece ainda como uma fonte de orgulho, um herói árabe, o “leão dos leões”, como um pregador em Jerusalém o designou. Praticamente ninguém se atreveria a sair à rua e afirmar tão abertamente, para terror dos americanos, mas até mesmo aqueles que consideravam as suas ideias impraticáveis e as suas acções perigosas, nos seus corações tinham-lhe respeito.
Será que isso significa que a Al-Qaeda tem futuro? Não acredito. Pertence ao passado – não porque o Bin Laden foi morto, mas porque a sua ideia principal é obsoleta.
A Primavera Árabe personifica um novo conjunto de ideais, um novo entusiasmo, que não glorifica nem anseia por um passado já distante, mas que olha corajosamente para o futuro. Os jovens homens e mulheres da Praça Tahrir, com o seu desejo pela liberdade, relegaram Bin Laden para a história meses antes da sua morte física. A sua filosofia apenas tem futuro caso o Despertar Árabe falhe por completo e deixe para trás um profundo sentimento de desilusão e desespero.
No mundo ocidental, poucos vão chorá-lo, mas Deus proíbe que alguém se regozije.
Publicado originalmente em Gush Shalom Tradução de Sara Vicentepara o Esquerda.net
*Uri Avnery, escritor israelita, jornalista, fundador do movimento de defesa da paz Gush Shalom.
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