Dakar, Senegal, 8 Julho 2011 (PANA) – A União Africana (UA) instou os seus representantes no Conselho de Segurança das Organização das Nações Unidas (ONU) a apoiar os esforços da Palestina para a sua adesão a esta organização mundial como Estado-membro de pleno direito.
De acordo com as decisões da recém-terminada 17ª cimeira da UA em Malabo, na Guiné Equatorial, os países-membros desta organização continental, que ainda o não tenham feito, são chamados a reconhecer imediatamente o Estado da Palestina com Jerusalém Oriental como sua capital.
Este reconhecimento e o estatuto de membro pleno das Nações Unidas para o Estado da Palestina devem basear-se nas fronteiras de 4 de junho de 1967 que consagram Al-Quds Al-Sharif (Jerusalém) como a capital deste território do Médio Oriente, refere a documentação final da conferência de Malabo.
Para o efeito, a União Africana propõe ao Conselho de Segurança da ONU a convocação de uma "sessão de emergência" para analisar o estatuto do Estado Palestino com vista à sua adoção durante a próxima sessão ordinária da Assembleia Geral da ONU a decorrer, a partir de Setembro deste ano, na sua sede em Nova Iorque (Estados Unidos).
Pede ainda a retomada das negociações de paz entre a Palestina e Israel e reafirma o seu apoio a uma solução pacífica do conflito árabe-israelita “com base nos princípios do Direito Internacional e nas resoluções pertinentes da ONU, com ênfase na criação de um Estado palestino independente”.
A UA denuncia as “práticas desumanas israelitas contra prisioneiros e detidos palestinos” e apela ao Governo de Israel para cessar a sua “política de ocupação e agressão” em todo o território palestino.
Reitera a sua solidariedade para com o povo da Palestina e saúda o acordo de paz e reconciliação assinado entre os movimentos palestinos rivais do Hamas e do Fatah, a 4 de maio deste ano, na capital egípcia, Cairo, elogiando por isso o Egito por ter facilitado a assinatura deste documento.
O Egito é igualmente enaltecido pela abertura do posto fronteiriço de Rafah que pôs fiz a quatro anos de bloqueio contra a Faixa de Gaza.
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segunda-feira, 11 de julho de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
PALESTINOS NÃO SE ILUDEM COM DISCURSO DE OBAMA, DIZ PROFESSOR
21 de maio de 2011, Terra Magazine http://terramagazine.terra.com.br (Brasil)
Marcela Rocha
"Os palestinos não têm nenhuma ilusão de que os israelenses se retirariam para a fronteira original de 1967. Qualquer palestino que declare isso como ponto de partida está fechando as portas para negociar. Isso vale tanto quanto a posição do Hamas de eliminar o Estado israelense".
A avaliação é de Samuel Feldberg. Cientista político da Universidade de Tel Aviv e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, onde se dedica às questões do Oriente Médio e do LEI - Laboratório de Estudos sobre a Intolerância.
Na entrevista abaixo, o professor faz uma análise do discurso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Em longo discurso sobre o Oriente Médio, proferido nesta quinta-feira (19), o estadista americano afirmou pela primeira vez que as fronteiras entre Israel e um futuro Estado palestino devem se basear nas traçadas em 1967, "com trocas mútuas e acertadas de forma que fronteiras seguras e reconhecidas sejam estabelecidas nos dois Estados".
Para Feldberg, o discurso é vago e não aponta para nenhuma mudança num horizonte próximo. "Não acrescentou nada de concreto". No entanto, pode ser útil para países em conflito como Egito e Síria.
Confira:
Terra Magazine - O que o senhor achou do discurso do Obama?
Samuel Feldberg - De maneira geral, ele reafirmou a defesa - por parte dos EUA - das manifestações em prol da democracia nos países do Oriente Médio. Ele deu também um apoio moral para as populações que estão se manifestando. Mas eu não vi nenhum elemento revolucionário nas declarações dele. Foi um discurso muito bem feito, muito bem elaborado. Mas do ponto de vista de um analista que conhece essas questões, achei monótono. É raro eu concordar com um porta-voz do Hamas, mas nesse caso, concordo com o que ele disse: Discurso não importa, mas o que importa são os passos que os EUA vão dar.
Quais passos o senhor acredita que serão dados?
Eu não acho que será dado nenhum passo pró-ativo. Os EUA estão sinalizando com promessas de reações ao que está acontecendo.
Alguns analistas dizem que o discurso aponta para a manutenção do favorecimento de Israel...
Os palestinos não têm nenhuma ilusão de que os israelenses se retirariam para a fronteira original de 1967. Qualquer palestino que declare isso como ponto de partida está fechando as portas para negociar. Isso vale tanto quanto a posição do Hamas de eliminar o Estado israelense.
O que há de novidade?
Tenho a impressão de ser a primeira vez que um presidente dos EUA enfatiza a desmilitarização do Estado palestino. Isto, certamente, vai de encontro a uma das principais reivindicações de Israel.
O senhor acha que isso seja possível num horizonte próximo? Tanto a desmilitarização quanto um acordo?
Não vejo isso em nenhum horizonte próximo. Essa não será uma condição negociável para o israelense, que não aceitará a criação de um Estado se ele for militarizado. Obama também alertou os palestinos para o fato de, caso declarada unilateralmente as questões do Estado e caso procurem o apoio das Nações Unidas, indicaria, então, um veto dos EUA no Conselho de Segurança. Isto porque na Assembléia Geral os palestinos conseguem votos suficientes. Tem alguns pontos que dá para pinçar do discurso que são perfeitamente a favor de Israel.
Por exemplo?
O Estado desmilitarizado, as fronteiras de 1967 com negociações sobre trocas de território, a questão da Assembléia Geral e o aviso do abandono do terror, porque senão as negociações não avançarão.
Para quê serviu esse discurso?
No meu ver, absolutamente nada. Não acrescentou nada de concreto. Eu acho que um item importante é a fragilidade do Egito que pode se evidenciar nas futuras eleições. O presidente Obama prometeu recursos aos países árabes, mas ele não tem de onde tirar esse dinheiro, porque o orçamento dos EUA está completamente estourado. Se isso for gerar uma espécie de Plano Marshall no mundo árabe, essas expectativas serão frustradas. Isto levaria, certamente, a novas manifestações.
O senhor acha que o discurso, então, foi muito mais direcionado a países como o Egito do que para Israel e Palestina?
Acho que foi muito mais para um país como a Síria, porque o Egito já passou da fase aguda do processo. Enquanto na Síria as forças de segurança mataram mais 21 manifestantes.
Veja também:
»Obama defende Estado palestino nas fronteiras de 1967
»Alemanha, França e Polônia anunciam apoio a plano de Obama
»Hamas classifica discurso de Obama de "fracasso"
»Abbas convoca reunião palestina urgente após fala de Obama
Marcela Rocha
"Os palestinos não têm nenhuma ilusão de que os israelenses se retirariam para a fronteira original de 1967. Qualquer palestino que declare isso como ponto de partida está fechando as portas para negociar. Isso vale tanto quanto a posição do Hamas de eliminar o Estado israelense".
A avaliação é de Samuel Feldberg. Cientista político da Universidade de Tel Aviv e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, onde se dedica às questões do Oriente Médio e do LEI - Laboratório de Estudos sobre a Intolerância.
Na entrevista abaixo, o professor faz uma análise do discurso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Em longo discurso sobre o Oriente Médio, proferido nesta quinta-feira (19), o estadista americano afirmou pela primeira vez que as fronteiras entre Israel e um futuro Estado palestino devem se basear nas traçadas em 1967, "com trocas mútuas e acertadas de forma que fronteiras seguras e reconhecidas sejam estabelecidas nos dois Estados".
Para Feldberg, o discurso é vago e não aponta para nenhuma mudança num horizonte próximo. "Não acrescentou nada de concreto". No entanto, pode ser útil para países em conflito como Egito e Síria.
Confira:
Terra Magazine - O que o senhor achou do discurso do Obama?
Samuel Feldberg - De maneira geral, ele reafirmou a defesa - por parte dos EUA - das manifestações em prol da democracia nos países do Oriente Médio. Ele deu também um apoio moral para as populações que estão se manifestando. Mas eu não vi nenhum elemento revolucionário nas declarações dele. Foi um discurso muito bem feito, muito bem elaborado. Mas do ponto de vista de um analista que conhece essas questões, achei monótono. É raro eu concordar com um porta-voz do Hamas, mas nesse caso, concordo com o que ele disse: Discurso não importa, mas o que importa são os passos que os EUA vão dar.
Quais passos o senhor acredita que serão dados?
Eu não acho que será dado nenhum passo pró-ativo. Os EUA estão sinalizando com promessas de reações ao que está acontecendo.
Alguns analistas dizem que o discurso aponta para a manutenção do favorecimento de Israel...
Os palestinos não têm nenhuma ilusão de que os israelenses se retirariam para a fronteira original de 1967. Qualquer palestino que declare isso como ponto de partida está fechando as portas para negociar. Isso vale tanto quanto a posição do Hamas de eliminar o Estado israelense.
O que há de novidade?
Tenho a impressão de ser a primeira vez que um presidente dos EUA enfatiza a desmilitarização do Estado palestino. Isto, certamente, vai de encontro a uma das principais reivindicações de Israel.
O senhor acha que isso seja possível num horizonte próximo? Tanto a desmilitarização quanto um acordo?
Não vejo isso em nenhum horizonte próximo. Essa não será uma condição negociável para o israelense, que não aceitará a criação de um Estado se ele for militarizado. Obama também alertou os palestinos para o fato de, caso declarada unilateralmente as questões do Estado e caso procurem o apoio das Nações Unidas, indicaria, então, um veto dos EUA no Conselho de Segurança. Isto porque na Assembléia Geral os palestinos conseguem votos suficientes. Tem alguns pontos que dá para pinçar do discurso que são perfeitamente a favor de Israel.
Por exemplo?
O Estado desmilitarizado, as fronteiras de 1967 com negociações sobre trocas de território, a questão da Assembléia Geral e o aviso do abandono do terror, porque senão as negociações não avançarão.
Para quê serviu esse discurso?
No meu ver, absolutamente nada. Não acrescentou nada de concreto. Eu acho que um item importante é a fragilidade do Egito que pode se evidenciar nas futuras eleições. O presidente Obama prometeu recursos aos países árabes, mas ele não tem de onde tirar esse dinheiro, porque o orçamento dos EUA está completamente estourado. Se isso for gerar uma espécie de Plano Marshall no mundo árabe, essas expectativas serão frustradas. Isto levaria, certamente, a novas manifestações.
O senhor acha que o discurso, então, foi muito mais direcionado a países como o Egito do que para Israel e Palestina?
Acho que foi muito mais para um país como a Síria, porque o Egito já passou da fase aguda do processo. Enquanto na Síria as forças de segurança mataram mais 21 manifestantes.
Veja também:
»Obama defende Estado palestino nas fronteiras de 1967
»Alemanha, França e Polônia anunciam apoio a plano de Obama
»Hamas classifica discurso de Obama de "fracasso"
»Abbas convoca reunião palestina urgente após fala de Obama
domingo, 8 de maio de 2011
ISRAEL E AS REVOLUÇÕES ÁRABES
6 maio 2011, Carta Maior http://www.cartamaior.com.br
Declarações recolhidas por Daniel Süri, publicado no jornal suíço SolidaritéS, n°185 (31/03/2011), fonte : npa2009.org
Em entrevista ao jornal suíço SolidaritéS, Michel Warschawski, fundador do Centro Alternativo de Informação, fala sobre como a súbita irrupção dos povos árabes no cenário político do Oriente Médio e norte da África representou um elemento que desestabilizou completamente os analistas e políticos israelenses. Para Warschawski, os levantes na região árabe podem levar os EUA a considerar que existe uma emergência e que o governo direitista de Israel começa a incomodar e precisa se adaptar à nova realidade rapidamente.
Daniel Süri - SolidaritéS
Em meados de março, Michel Warschawski, militante anti-sionista e fundador do Centro Alternativo de Informação israelense-palestino de Jerusalém e Beit Sahour, participou de várias assembleias públicas na Suíça ocidental dedicadas a acabar com a impunidade dos crimes de guerra cometidos em Gaza, ao lado de Stéphane Hessel.
Ao ler a imprensa israelense, tem-se a sensação de que Israel nega qualquer legitimidade aos movimentos populares nos países árabes. Isso é assim mesmo?
Completamente. Diria mesmo que vai além de negar esta legitimidade. É simplesmente um fator que não existe. Israel conhece estados, governos, exércitos, pode fazer a guerra, negociar, fazer a paz, mas isso acontece sempre ao nível dos estados. Quando se trata dos povos árabes, torna-se uma espécie de massa, identificada com o terrorismo, com um perigo para Israel. Por definição, as massas árabes são anti-israelenses ou mesmo anti-semitas. E a súbita irrupção das massas como ator representou um elemento que desestabilizou completamente os analistas e os políticos israelenses.
Assim, a reação de Israel não se baseia apenas no medo de perder o recurso que o tratado de paz com o Egito representaria, mas também na sua recusa de tomar em consideração as massas árabes?
Sim, mas mais que uma recusa é um verdadeiro sentimento de ameaça. A paz com o Egipto existe desde há várias décadas e nunca foi um sentimento profundo, compartilhado, que fosse um dado adquirido para Israel. E agora, de modo quase cômico diria eu, põem-se de repente perguntas, faz-se de conta que se descobre que “sim, esta é uma questão”, etc. Mas Israel não tem feito nada para manter esta paz. Não fez nada, por exemplo, para fortalecer o governo egípcio que tinha feito a paz, ou simplesmente para ouvir o que ele disse. Várias vezes o presidente Moubarak advertiu Israel para a sua política no Líbano ou em Gaza. A resposta foi um pouco do tipo “mas quem é este Moubarak?”. E de repente descobre-se agora o processo de paz, e perguntamo-nos o que vai acontecer. De alguma forma, ganha significado, negativamente.
Por que foi posto em perigo?
Não, não está em perigo, mas quem parecia ser o seu garante já não está lá.
Este sentimento de ameaça explicaria também as declarações de Shimon Peres a Angela Merkel, segundo as quais a democracia estaria de alguma forma reservada àqueles que se reconhecem na civilização ocidental, mas seria preciso usá-la com parcimônia com os outros?
Isso é tipicamente o olhar colonial de Israel, e especialmente o de Shimon Peres, que tem uma visão binária do mundo, com uma face civilizada dum lado, a dos que pertencem à tradição judaico-cristã, e do outro a dos selvagens. E esses, é preciso saber governá-los. Isso está também profundamente enraizado na opinião israelense e é por isso que não tiveram nem um pingo da alegria que se encontrou em todo o mundo que dizia «há uma primavera árabe!». Aí era mais outono...
Precisamente, essa atitude é própria das esferas governamentais ou é partilhada pela população israelense?
É amplamente partilhada pelo povo e pelos meios de comunicação. Certamente, existem opiniões e comentários que são mais espertos e mais abertos relativamente a esta mudança imensa no mundo árabe, mas de maneira geral é uma opinião partilhada pela grande maioria dos meios de comunicação e, portanto, da opinião pública.
A política externa israelense não vai então mudar? Vai continuar a sua linha de “defesa de um estado sitiado” à espera do retorno dos republicanos a Washington?
Efetivamente. Bem antes dos eventos regionais que conhecemos, Obama foi sempre visto como um parêntesis, um mau parêntesis. É preciso esperar que o parêntesis se feche para voltar à normalidade, e a normalidade tem um nome: George W. Bush. Mesmo que não seja ele, essa normalidade declina-se no passado, na guerra global, permanente e preventiva, numa estratégia de recolonização do mundo. Benjamin Nethanyau [atual primeiro-ministro] foi um dos pais desta estratégia 30 anos atrás. Para ele, o reinado de Bush e a sua estratégia permitiram a realização de todos os seus objetivos. A saída de Bush, que se seguiu ao fracasso desta estratégia de guerra global, que foi um fiasco para os americanos, foi percebida principalmente em Israel como um parêntesis antes dum regresso próximo à normalidade.
Podemos esperar, com base nos avanços do movimento democrático e social na região, uma mudança na opinião pública israelense ou será que a situação está completamente rígida?
Isso será mediado por Washington. Se a política americana mudar em função duma nova interpretação da realidade no Médio Oriente, irá forçar a mão para uma mudança na política israelense, da opinião pública israelense e, possivelmente, do governo. Com um problema, que é não temos um governo de reserva. "Tzipi" Livni e o Kadima? [dirigente e principal partido da oposição]. Talvez. Mas isso só se fará através de Washington. Tal como no passado, quando cada viragem na política israelense se seguiu a uma viragem na política americana e foi por assim dizer imposta ou conduzida por esta. Não haverá nenhuma tomada de consciência autônoma; ela será forçada, de certa forma.
Mas terá Washington meios para o fazer? A política israelense de continuação da colonização fez-se contra a resistência e as críticas dos Estados Unidos, não haverá uma certa autonomia do governo israelense?
Há certamente uma grande autonomia do governo israelense. Ele não é uma marionete que se manipula a partir de Washington e se você me tivesse posto a questão há dois meses, eu teria dito “não haverá nenhuma mudança”. Os norteamericanos estão conscientes – e é isso que explica o recuo de Obama após o discurso no Cairo, que dava a entender muitas coisas e que foi rapidamente “esquecido” – de que precisam de fazer grandes pressões para fazer recuar o governo de extrema-direita atual e a opinião pública israelense, bastante direitista. Já não é uma discussão política amigável do tipo “vocês têm de se acalmar, vocês excedem-se e isso cria-nos problemas ...” . Aí vai ser preciso forçar a mão. Forçar a mão, quer dizer enfraquecer Israel, portanto enfraquecer também os norteamericanos. O que explica o recuo dos Estados Unidos e não de forma alguma a suposta ação de vários lobbies pró-Israel.
Washington foi confrontado com esta escolha: Israel teria de mudar de política, mas se nós dermos os meios para a fazer mudar, enfraquecemo-nos. Dilema, portanto, uma vez que em ambos os casos, estamos fracos. E da mesma forma que em Israel se espera o fim da presidência de Obama, nos EUA espera-se o fim do governo de direita atual e o regresso dum governo mais moderado. Esta é a resposta que eu teria dado há dois meses. Os levantes na região árabe, poderiam contudo levar os norteamericanos a considerar que existe uma emergência e que Israel começa a incomodar; eles poderiam achar que os interesses americanos exigem a Israel que se adapte e fazer com que as autoridades israelenses compreendam isso firmemente.
Tradução de Paula Sequeiros para Esquerda.net
Declarações recolhidas por Daniel Süri, publicado no jornal suíço SolidaritéS, n°185 (31/03/2011), fonte : npa2009.org
Em entrevista ao jornal suíço SolidaritéS, Michel Warschawski, fundador do Centro Alternativo de Informação, fala sobre como a súbita irrupção dos povos árabes no cenário político do Oriente Médio e norte da África representou um elemento que desestabilizou completamente os analistas e políticos israelenses. Para Warschawski, os levantes na região árabe podem levar os EUA a considerar que existe uma emergência e que o governo direitista de Israel começa a incomodar e precisa se adaptar à nova realidade rapidamente.
Daniel Süri - SolidaritéS
Em meados de março, Michel Warschawski, militante anti-sionista e fundador do Centro Alternativo de Informação israelense-palestino de Jerusalém e Beit Sahour, participou de várias assembleias públicas na Suíça ocidental dedicadas a acabar com a impunidade dos crimes de guerra cometidos em Gaza, ao lado de Stéphane Hessel.
Ao ler a imprensa israelense, tem-se a sensação de que Israel nega qualquer legitimidade aos movimentos populares nos países árabes. Isso é assim mesmo?
Completamente. Diria mesmo que vai além de negar esta legitimidade. É simplesmente um fator que não existe. Israel conhece estados, governos, exércitos, pode fazer a guerra, negociar, fazer a paz, mas isso acontece sempre ao nível dos estados. Quando se trata dos povos árabes, torna-se uma espécie de massa, identificada com o terrorismo, com um perigo para Israel. Por definição, as massas árabes são anti-israelenses ou mesmo anti-semitas. E a súbita irrupção das massas como ator representou um elemento que desestabilizou completamente os analistas e os políticos israelenses.
Assim, a reação de Israel não se baseia apenas no medo de perder o recurso que o tratado de paz com o Egito representaria, mas também na sua recusa de tomar em consideração as massas árabes?
Sim, mas mais que uma recusa é um verdadeiro sentimento de ameaça. A paz com o Egipto existe desde há várias décadas e nunca foi um sentimento profundo, compartilhado, que fosse um dado adquirido para Israel. E agora, de modo quase cômico diria eu, põem-se de repente perguntas, faz-se de conta que se descobre que “sim, esta é uma questão”, etc. Mas Israel não tem feito nada para manter esta paz. Não fez nada, por exemplo, para fortalecer o governo egípcio que tinha feito a paz, ou simplesmente para ouvir o que ele disse. Várias vezes o presidente Moubarak advertiu Israel para a sua política no Líbano ou em Gaza. A resposta foi um pouco do tipo “mas quem é este Moubarak?”. E de repente descobre-se agora o processo de paz, e perguntamo-nos o que vai acontecer. De alguma forma, ganha significado, negativamente.
Por que foi posto em perigo?
Não, não está em perigo, mas quem parecia ser o seu garante já não está lá.
Este sentimento de ameaça explicaria também as declarações de Shimon Peres a Angela Merkel, segundo as quais a democracia estaria de alguma forma reservada àqueles que se reconhecem na civilização ocidental, mas seria preciso usá-la com parcimônia com os outros?
Isso é tipicamente o olhar colonial de Israel, e especialmente o de Shimon Peres, que tem uma visão binária do mundo, com uma face civilizada dum lado, a dos que pertencem à tradição judaico-cristã, e do outro a dos selvagens. E esses, é preciso saber governá-los. Isso está também profundamente enraizado na opinião israelense e é por isso que não tiveram nem um pingo da alegria que se encontrou em todo o mundo que dizia «há uma primavera árabe!». Aí era mais outono...
Precisamente, essa atitude é própria das esferas governamentais ou é partilhada pela população israelense?
É amplamente partilhada pelo povo e pelos meios de comunicação. Certamente, existem opiniões e comentários que são mais espertos e mais abertos relativamente a esta mudança imensa no mundo árabe, mas de maneira geral é uma opinião partilhada pela grande maioria dos meios de comunicação e, portanto, da opinião pública.
A política externa israelense não vai então mudar? Vai continuar a sua linha de “defesa de um estado sitiado” à espera do retorno dos republicanos a Washington?
Efetivamente. Bem antes dos eventos regionais que conhecemos, Obama foi sempre visto como um parêntesis, um mau parêntesis. É preciso esperar que o parêntesis se feche para voltar à normalidade, e a normalidade tem um nome: George W. Bush. Mesmo que não seja ele, essa normalidade declina-se no passado, na guerra global, permanente e preventiva, numa estratégia de recolonização do mundo. Benjamin Nethanyau [atual primeiro-ministro] foi um dos pais desta estratégia 30 anos atrás. Para ele, o reinado de Bush e a sua estratégia permitiram a realização de todos os seus objetivos. A saída de Bush, que se seguiu ao fracasso desta estratégia de guerra global, que foi um fiasco para os americanos, foi percebida principalmente em Israel como um parêntesis antes dum regresso próximo à normalidade.
Podemos esperar, com base nos avanços do movimento democrático e social na região, uma mudança na opinião pública israelense ou será que a situação está completamente rígida?
Isso será mediado por Washington. Se a política americana mudar em função duma nova interpretação da realidade no Médio Oriente, irá forçar a mão para uma mudança na política israelense, da opinião pública israelense e, possivelmente, do governo. Com um problema, que é não temos um governo de reserva. "Tzipi" Livni e o Kadima? [dirigente e principal partido da oposição]. Talvez. Mas isso só se fará através de Washington. Tal como no passado, quando cada viragem na política israelense se seguiu a uma viragem na política americana e foi por assim dizer imposta ou conduzida por esta. Não haverá nenhuma tomada de consciência autônoma; ela será forçada, de certa forma.
Mas terá Washington meios para o fazer? A política israelense de continuação da colonização fez-se contra a resistência e as críticas dos Estados Unidos, não haverá uma certa autonomia do governo israelense?
Há certamente uma grande autonomia do governo israelense. Ele não é uma marionete que se manipula a partir de Washington e se você me tivesse posto a questão há dois meses, eu teria dito “não haverá nenhuma mudança”. Os norteamericanos estão conscientes – e é isso que explica o recuo de Obama após o discurso no Cairo, que dava a entender muitas coisas e que foi rapidamente “esquecido” – de que precisam de fazer grandes pressões para fazer recuar o governo de extrema-direita atual e a opinião pública israelense, bastante direitista. Já não é uma discussão política amigável do tipo “vocês têm de se acalmar, vocês excedem-se e isso cria-nos problemas ...” . Aí vai ser preciso forçar a mão. Forçar a mão, quer dizer enfraquecer Israel, portanto enfraquecer também os norteamericanos. O que explica o recuo dos Estados Unidos e não de forma alguma a suposta ação de vários lobbies pró-Israel.
Washington foi confrontado com esta escolha: Israel teria de mudar de política, mas se nós dermos os meios para a fazer mudar, enfraquecemo-nos. Dilema, portanto, uma vez que em ambos os casos, estamos fracos. E da mesma forma que em Israel se espera o fim da presidência de Obama, nos EUA espera-se o fim do governo de direita atual e o regresso dum governo mais moderado. Esta é a resposta que eu teria dado há dois meses. Os levantes na região árabe, poderiam contudo levar os norteamericanos a considerar que existe uma emergência e que Israel começa a incomodar; eles poderiam achar que os interesses americanos exigem a Israel que se adapte e fazer com que as autoridades israelenses compreendam isso firmemente.
Tradução de Paula Sequeiros para Esquerda.net
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Os ataques de Israel contra a unidade palestina
Israel atacou o acordo alcançado no Cairo pelos dois principais partidos palestinos após quatro anos de conflitos internos, e ameaçou impor mais sanções econômicas, além do congelamento de impostos arrecadados pelo Estado judeu em nome de seu vizinho.
Por Mel Frykberg, na agência IPS, em Ramalá
"Acordamos formar um governo composto por figuras independentes que comecem a preparar as eleições presidenciais e parlamentares", disse na semana passada Azzam al-Ahmad, negociador-chefe da organização Movimento de Libertação Nacional dos Povos da Palestina (Fatah), de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
"As eleições serão organizadas dentro de alguns meses", disse Azzam, acrescentando que a Liga Árabe supervisionará a execução do acordo. "Nossa divisão é uma oportunidade para os israelenses. Hoje viramos a página", disse Musa Abu Marzuk, autoridade do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas). O acordo assinado no dia 27 de abril tem cinco pontos e incluem forças de segurança combinadas e um governo com "figuras nacionalistas", destacou Mahmoud al-Zahar, alto representante do Hamas que participou das conversações. Além disso, os dois partidos libertarão seus presos mutuamente.
As partes também acordaram sobre quem ocupará um assento no comitê central de eleições e quais estarão entre os 12 juízes que supervisionarão a votação. Além disso, um comitê de defesa conjunto controlará as forças de segurança palestinas. O governo interino estará integrado por tecnocratas sem filiação partidária e designados pelos dois partidos.
O governo de Israel utiliza esse acordo de unidade, que será ratificado esta semana no Cairo, para justificar medidas econômicas punitivas contra os palestinos. O ministro das Finanças israelense, Yuval Steinitz, negou-se a entregar US$ 88 milhões arrecadados com impostos aduaneiros e outros fundos palestinos, como deveria ter feito, segundo os Acordos de Oslo de 1993. O governo também disse que estuda impor sanções econômicas adicionais. Mais de 170 mil palestinos funcionários da ANP em Gaza e na Cisjordânia não receberão seus salários se o dinheiro não for liberado, o que criaria um caos.
O primeiro-ministro da ANP, Salam Faiad, disse que ele e seus assessores realizaram contatos urgentes com figuras internacionais influentes pedindo que pressionem Israel para liberar os fundos da ANP. O Estado judeu arrecada cerca de US$ 1,4 bilhão ao ano, que são dos palestinos. As tentativas de chantagem de Israel não afetarão o processo de unidade, acrescentou. "Estamos decididos a forjar uma reconciliação apesar de sua atitude", insistiu Faiad. "Se Israel acredita que temos de escolher entre a paz com ele ou com o Hamas, qualquer palestino dirá que prefere a unidade", afirmou Taufik Tiraui, dirigente político da Fatah.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ao atacar as tratativas de acordo em discurso na televisão, disse que "a ANP deve escolher entre a paz com Israel ou o Hamas. Não é possível alcançá-la com ambos". O governo de Israel disse que um acordo de unidade, que surpreendeu tanto a inteligência desse país quanto a dos Estados Unidos, "não garantirá" a paz no Oriente Médio. Além disso, reclamou que Abbas "continua rechaçando" o movimento islâmico, que controla a Faixa da Gaza desde 2007 após expulsar a Fatah.
Tirawi respondeu que não é necessário que todos os partidos palestinos reconheçam Israel para ter início o processo de paz. Vários movimentos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), incluída a Frente Democrática para a Libertação da Palestina, foram contra os Acordos de Oslo, mas aceitaram a vontade da maioria em reconhecer Israel, recordou. "Além disso, aplaudiremos todo acordo de paz com Israel, mas esse país terá de deter a construção nas colônias. É o Estado judeu que prefere as colônias à paz", acrescentou.
A unidade Palestina é considerada um passo fundamental para criar um Estado. Os palestinos pretendem apresentar o caso de sua independência na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em setembro, quando espera ser reconhecido por 150 nações, bem acima da quantidade necessária.
Netanyahu não perdeu tempo, tentando fazer a unidade se voltar contra os palestinos reclamando à comunidade internacional que não negocie com a nova direção unida. A segurança de Israel está em perigo por causa do movimento "terrorista" Hamas, afirmou. O chanceler israelense, Avigdor Lieberman, disse que o Hamas se apoderará da Cisjordânia. Contudo, fontes da inteligência de Israel acusaram Netanyahu de exagerar a ameaça à segurança e de tentar obter dividendos políticos.
"Não há volta atrás", disse Samir Awad, da Universidade de Birzeit, perto de Ramalá. Finalmente, a comunidade internacional apoiará uma frente palestina unida. "Os palestinos, a população autóctone, não recebeu nada de Israel em troca de entregar a maior parte de seu território e reconhecer Israel. Agora, não têm nada a perder. Os egípcios tomaram uma decisão corajosa ao abrirem a passagem fronteiriça de Rafá, na fronteira com Gaza, de forma permanente, e a unidade nacional é um avanço importante", acrescentou Awad.
Por Mel Frykberg, na agência IPS, em Ramalá
"Acordamos formar um governo composto por figuras independentes que comecem a preparar as eleições presidenciais e parlamentares", disse na semana passada Azzam al-Ahmad, negociador-chefe da organização Movimento de Libertação Nacional dos Povos da Palestina (Fatah), de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
"As eleições serão organizadas dentro de alguns meses", disse Azzam, acrescentando que a Liga Árabe supervisionará a execução do acordo. "Nossa divisão é uma oportunidade para os israelenses. Hoje viramos a página", disse Musa Abu Marzuk, autoridade do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas). O acordo assinado no dia 27 de abril tem cinco pontos e incluem forças de segurança combinadas e um governo com "figuras nacionalistas", destacou Mahmoud al-Zahar, alto representante do Hamas que participou das conversações. Além disso, os dois partidos libertarão seus presos mutuamente.
As partes também acordaram sobre quem ocupará um assento no comitê central de eleições e quais estarão entre os 12 juízes que supervisionarão a votação. Além disso, um comitê de defesa conjunto controlará as forças de segurança palestinas. O governo interino estará integrado por tecnocratas sem filiação partidária e designados pelos dois partidos.
O governo de Israel utiliza esse acordo de unidade, que será ratificado esta semana no Cairo, para justificar medidas econômicas punitivas contra os palestinos. O ministro das Finanças israelense, Yuval Steinitz, negou-se a entregar US$ 88 milhões arrecadados com impostos aduaneiros e outros fundos palestinos, como deveria ter feito, segundo os Acordos de Oslo de 1993. O governo também disse que estuda impor sanções econômicas adicionais. Mais de 170 mil palestinos funcionários da ANP em Gaza e na Cisjordânia não receberão seus salários se o dinheiro não for liberado, o que criaria um caos.
O primeiro-ministro da ANP, Salam Faiad, disse que ele e seus assessores realizaram contatos urgentes com figuras internacionais influentes pedindo que pressionem Israel para liberar os fundos da ANP. O Estado judeu arrecada cerca de US$ 1,4 bilhão ao ano, que são dos palestinos. As tentativas de chantagem de Israel não afetarão o processo de unidade, acrescentou. "Estamos decididos a forjar uma reconciliação apesar de sua atitude", insistiu Faiad. "Se Israel acredita que temos de escolher entre a paz com ele ou com o Hamas, qualquer palestino dirá que prefere a unidade", afirmou Taufik Tiraui, dirigente político da Fatah.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ao atacar as tratativas de acordo em discurso na televisão, disse que "a ANP deve escolher entre a paz com Israel ou o Hamas. Não é possível alcançá-la com ambos". O governo de Israel disse que um acordo de unidade, que surpreendeu tanto a inteligência desse país quanto a dos Estados Unidos, "não garantirá" a paz no Oriente Médio. Além disso, reclamou que Abbas "continua rechaçando" o movimento islâmico, que controla a Faixa da Gaza desde 2007 após expulsar a Fatah.
Tirawi respondeu que não é necessário que todos os partidos palestinos reconheçam Israel para ter início o processo de paz. Vários movimentos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), incluída a Frente Democrática para a Libertação da Palestina, foram contra os Acordos de Oslo, mas aceitaram a vontade da maioria em reconhecer Israel, recordou. "Além disso, aplaudiremos todo acordo de paz com Israel, mas esse país terá de deter a construção nas colônias. É o Estado judeu que prefere as colônias à paz", acrescentou.
A unidade Palestina é considerada um passo fundamental para criar um Estado. Os palestinos pretendem apresentar o caso de sua independência na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em setembro, quando espera ser reconhecido por 150 nações, bem acima da quantidade necessária.
Netanyahu não perdeu tempo, tentando fazer a unidade se voltar contra os palestinos reclamando à comunidade internacional que não negocie com a nova direção unida. A segurança de Israel está em perigo por causa do movimento "terrorista" Hamas, afirmou. O chanceler israelense, Avigdor Lieberman, disse que o Hamas se apoderará da Cisjordânia. Contudo, fontes da inteligência de Israel acusaram Netanyahu de exagerar a ameaça à segurança e de tentar obter dividendos políticos.
"Não há volta atrás", disse Samir Awad, da Universidade de Birzeit, perto de Ramalá. Finalmente, a comunidade internacional apoiará uma frente palestina unida. "Os palestinos, a população autóctone, não recebeu nada de Israel em troca de entregar a maior parte de seu território e reconhecer Israel. Agora, não têm nada a perder. Os egípcios tomaram uma decisão corajosa ao abrirem a passagem fronteiriça de Rafá, na fronteira com Gaza, de forma permanente, e a unidade nacional é um avanço importante", acrescentou Awad.
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